*7.5/10*
Quentin Dupieux tem um jeito especial para dar vida a objectos inanimados e transformá-los em protagonistas dos seus filmes. Foi assim em 2010, com Rubber - Pneu, e volta a fazê-lo bem agora com o casaco de 100% Camurça.
Neste caso, a vida é dada ao casaco através do seu dono, George, interpretado por Jean Dujardin, que conduz a história alucinante com o seu carisma e humor, numa espiral de loucura.
O filme apresenta-nos Georges, um recém-divorciado de 44 anos de idade, e o seu casaco, 100% camurça. Eles têm um plano... Mas a sua obsessão poderá tornar-se extrema.
Dupieux abandona um pouco o nonsense que o tem caracterizado e agora aproxima-se mais da realidade - por muito hilariantes que sejam os acontecimentos. Ao mesmo tempo que nos vamos rir das situações, também vamos temer pelo desequilíbrio crescente do protagonista.
A chegada de George àquele local inóspito, onde pouco ou nada acontece até à sua aparição, vem no seguimento de um divórcio, e da compra - por uma soma bastante avultada - de um casaco de camurça em segunda mão. Os dois acontecimentos parecem produzir no protagonista uma crise de identidade ou apenas a vontade de se isolar e mudar de vida. No bar da pequena povoação, conhece Denise, uma aliada que lhe oferece a ajuda financeira de que necessita, mas que se torna igualmente uma parceira de sonhos e obsessões. Já ela vê nele uma alma gémea no que toca à forma de ver a vida e de se empenhar no trabalho. Ele parece ser capaz de a ajudar a concretizar os seus próprios sonhos.
Da ideia de realizar um filme - que lhe surge em conversa com Denise - à vida de criminoso vai um pequeno passo. O elenco alinha no jogo louco de Dupieux, com Dujardin ao comando, seguro e vestido de camurça pura, da cabeça aos pés, em dupla com a tranquila e quase inocente Adèle Haenel.
100 % Camurça é simples e certeiro, sabendo jogar com o ritmo da acção que se constrói num crescendo de tensão, com a loucura a tomar forma, guiada pelo desejo de um mundo, onde só um casaco pode vingar.
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