quarta-feira, 15 de julho de 2020

FICLO 2020: Out Stealing Horses / Ut og stjæle hester (2019)

*6/10*


Out Stealing Horses, de Hans Petter Moland, adapta o romance homónimo de Per Petterson, e leva-nos numa viagem às memórias e aos sentidos de um homem marcado pela relação com o pai. Neste filme, a família tem um papel fundamental, e a Natureza protagoniza o deslumbre visual que a câmara proporciona.

Em Novembro de 1999, Trond (Stellan Skarsgård) tem 67 anos e vive isolado, após a morte da mulher. O aproximar do virar do milénio não lhe traz vontade de festejar, mas a chegada do Inverno apresenta-o ao vizinho Lars (Bjørn Floberg), que o faz recordar o Verão de 1948, quando tinha 15 anos, e a importância que o mesmo teve para a sua vida.


Out Stealing Horses vagueia entre a inocência da infância e o confronto com a idade adulta, em plena adolescência do protagonista. Aquele Verão inesquecível, que moldou Trond para sempre e tanto lhe ensinou, é reencontrado entre as memórias bem guardadas, e faz com que o protagonista reviva e compreenda melhor os acontecimentos, numa espécie de reconciliação com os seus e consigo mesmo.

Foi em 1948 que se deparou com a morte, provavelmente, pela primeira vez, com a traição, o abandono. O papel da família, em especial do "pai-modelo", alterou-se, para sempre, na percepção do jovem. Ao mesmo tempo, a liberdade e as sensações que a Natureza lhe proporcionou abarcam outras tantas recordações. Regressamos com ele ao passado, e revivemo-lo em conjunto, com as observações que Trond, agora adulto, faz enquanto narra a sua própria história - uma narração que se torna exaustiva, após a metade do filme.


E se a história em si não cativa como poderia, as imagens são o grande motor que faz Out Stealing Horses funcionar. São elas que transpiram a inocência e as transformações que o jovem Trond vivencia naquele Verão. A direcção de fotografia e o trabalho de som são capazes de nos fazer sentir as texturas, como se lhes tocássemos, como se ouvíssemos os sons da Natureza, que surgem tão envolventes no ecrã. As paisagens são arrebatadoras, desde a felicidade e aventura inicialmente espelhadas no Verão do passado, à sombria nostalgia do invernal presente. Ouvimos cada ruído, sentimos a neve, a água do rio, o nevoeiro, as plantas, os troncos das árvores, os insectos, pássaros, coelhos e restantes elementos.

Out Stealing Horses é, essencialmente, um filme de sensações, em que "roubar cavalos" representa o esplendor da juventude de Trond, espelhado na força da Natureza.

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