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segunda-feira, 21 de setembro de 2020

MOTELx'20: Relic (2020), de Natalie Erika James

*6.5/10*


A estreia de Natalie Erika James nas longas-metragens trouxe ao MOTELx 2020 uma história de terror sobre o envelhecimento e a doença: Relic. Um começo auspicioso da cineasta que revela destreza na construção de uma atmosfera perturbadora e labiríntica.

"Quando Edna, a matriarca idosa e viúva da família, desaparece, a sua filha Kay e a neta Sam viajam para a remota casa de família para procurá-la. Edna reaparece misteriosamente da mesma forma como desapareceu, mas vem diferente. Algo a acompanha."

Relic aborda o envelhecimento do corpo e da mente, com a demência e os seus principais sintomas a serem usados para criar a dualidade entre o científico e o sobrenatural, o real e a alucinação. 

Natalie Erika James é excelente na construção do ambiente da longa-metragem, com a casa a assumir um papel fulcral, símbolo de uma família em ruínas. Esta decadência do corpo, das memórias e das relações está espelhada no interior das paredes ocas, de onde ecoam inexplicáveis sons, o bolor e corredores mutáveis e intermináveis - qual upside down. A par do espaço físico, os sonhos recorrentes de Kay revelam os maiores medos - e muitos remorsos - que pairam naquela casa, com uma história do passado (que ninguém quer que se repita) a bater à porta frequentemente.


Ao ver Relic, a comparação mais certeira a fazer será com The Babadook (2014), de Jennifer Kent, com esta aura sobrenatural vs. psíquica a pairar de modo muito semelhante. E esta é a grande força de ambos os filmes, na construção de um medo claustrofóbico e que faz duvidar constantemente. Destaque ainda para o bom desempenho das actrizes protagonistas, Emily Mortimer, Robyn Nevin e Bella Heathcote, com interpretações muito físicas, em especial as duas primeiras.

O trabalho de cenografia e direcção artística é fabuloso e um dos grandes responsáveis pela criação desta singularidade atmosférica, contudo, há uma má concretização de ideias que deita por terra a génese da longa-metragem. O final paira entre o poético, o profético e o grotesco, sem dúvida desnecessário. A mensagem já tinha passado, sem a insistência no choque visual.


O perpetuar do mistério ao longo de Relic desfaz-se numa conclusão sem impacto ou especial significado para além daquele que, desde o início, já captamos: o abalo que a doença e a velhice causa em várias gerações de uma família.

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