terça-feira, 9 de março de 2021

Crítica: Tudo Pelo Vosso Bem / I Care a Lot (2020)

"My name is Marla Grayson, and I'm not a lamb. I am a fucking lioness!"

Marla Grayson

*5.5/10*

Tudo Pelo Vosso Bem (I Care a Lot) é um retrato perverso e cómico do lado mais violento do capitalismo, protagonizado por uma mulher, capaz de tudo para ser rica. Sem réstia de ética ou moral, não há personagem que fique do lado do bem e esse é o grande desafio que o filme de J Blakeson nos lança.

"Marla Grayson (Rosamund Pike) é nomeada pelo tribunal para tutelar dezenas de idosos, de cujos bens se acaba por apropriar indevidamente através de meios duvidosos, mas legais. Um esquema bem montado que Marla aplica com a ajuda da sua parceira de negócios e amante, Fran (Eiza González) e que se prepara para repetir com uma nova cliente, a abastada e solitária Jennifer Peterson (Dianne Wiest). Mas quando a vítima revela um segredo tão sombrio quanto o dela e ligações a um volátil criminoso (Peter Dinklage), Marla é obrigada a mostrar o que vale num jogo que nada tem de justo, nem limpo."

J Blakeson cria uma história sarcástica e incómoda em torno de uma mulher e do seu lucrativo negócio, altamente reprovável, mas que actua com o apoio do Estado e da Lei. Por todos os lados, espreitam esquemas e manobras para tutelar qualquer idoso com um património apetecível, tirando proveito da sua aparente fragilidade. Contudo, o caso de Jennifer Peterson não saiu como Marla previra. E eis que a acção se adensa, entre as situações mais inacreditáveis ou violentas, sempre com algum humor.

Rosamund Pike regressa ao papel de vilã (muito ao estilo do que fez em Em Parte Incerta), uma mulher com duas caras, ambiciosa, cínica e sem carácter, capaz de agir com frieza e sem remorsos. Dianne Wiest é outro dos destaques nas interpretações, a mulher que vem mudar o jogo de Marla Grayson, cuja aparente fragilidade esconde uma personalidade forte e provocadora e resistência inesperada. A juntar-se às duas actrizes, Peter Dinklage veste a pele de um mafioso dedicado a quem ama - e aos seus segredos -, facilmente irritável e sem rodeios no que toca à violência.

Tudo Pelo Vosso Bem não se preocupa muito com a plateia, lançando-a numa história com potencial que depressa se perde em jogos e chantagens - e um final terrível e indesculpável, com uma espécie de triunfo do patriarcado. A ambição desmedida das personagens proporciona momentos divertidos - e tensos - mas, principalmente, um leque de boas interpretações.

2 comentários:

Daniela Marques disse...

Por acaso, tenho andado na dúvida sobre este filme. Se por um lado, tem bons atores e um enredo que até me apetece ver, muitas são as opiniões negativas acerca do filme. No entanto, depois de ler a tua crítica e, mesmo sabendo que não gostaste do final, deixaste-me curiosa e, por isso, acho que lhe vou dar uma oportunidade.

Inês Moreira Santos disse...

Fico contente por te deixar inspirada a ver o filme. :)
Um beijinho