quarta-feira, 2 de março de 2022

Crítica: Os Predadores / I predatori (2020)

*6/10*

A estreia do actor Pietro Castellitto na realização com Os Predadores (I predatori) é provocadora q.b., repleta de inspiração dos mestres italianos, e revela uma certeira capacidade de construção narrativa.

"Esta é a história de duas famílias de extremos opostos: os Pavone, burgueses intelectuais, e os Vismara, proletários fascistas. Duas tribos que partilham a mesma selva: Roma. Um  incidente trivial fará com que os dois pólos colidam. A loucura e irreverência de um jovem de 25 anos despoleta um confronto e uma revelação:  afinal, todos têm um segredo e ninguém é o que parece. Somos todos predadores."

Pietro Castellitto, que para além de realizador assume também o argumento da longa-metragem, revela uma escrita engenhosa, com uma circularidade narrativa caricata e um humor negro que se mune do nonsense e mistura-o com muitos clichés, usando-os até à exaustão sem vergonha nem remorso. Assim se constrói Os Predadores, com acontecimentos não lineares e onde a montagem assume um papel fundamental para contar a história. 

Cada personagem se liga a outras por acontecimentos mais ou menos casuais, coincidências ou simples loucura, numa circularidade de enredos que junta bombas, armas, Nietzsche, filmes, traições, aniversários ou atropelamentos. Os planos-sequência, muitas vezes usados pelo realizador, aumentam este cruzamento de histórias e personagens, num jogo de provocações - tanto dentro do ecrã como à plateia.

Se, por um lado, Os Predadores se revela um pouco inconsequente na (falta de) mensagens que transmite, é ainda assim uma comédia italiana com bons momentos e uma estreia inspirada de Pietro Castellitto.

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