terça-feira, 12 de abril de 2022

Crítica: Flee - A Fuga / Flugt (2021)

"(...) The journalists come and film us. We hope something will happen, but no. They go home to make TV programmes... But nothing really happens. "

Amin

*8/10*

Flee - A Fuga revela na tela do cinema as confissões de uma vida e o sofrimento de um homem, guardado em segredo absoluto, ao longo de muitos anos. Jonas Poher Rasmussen cria um documentário, que junta a animação às imagens de arquivo, e conta ao Mundo a amarga história de superação de um jovem refugiado, de Cabul a Copenhaga. 

"Amin chegou à Dinamarca como menor desacompanhado, proveniente do Afeganistão. Hoje, aos 36 anos, é um académico de sucesso e vai casar com o namorado de longa data. Mas um segredo que esconde há mais de 20 anos ameaça arruinar a vida que construiu. Pela primeira vez, vai partilhar essa história com o seu amigo íntimo. Documentário na primeira pessoa, em jeito de entrevista, empurra os limites do género retratando a experiência de um refugiado através da animação, para apresentar um comovente livro de memórias."

A Odisseia de Amin traz para o centro do debate os refugiados e as situações limite que os levam a fugir, deixando tudo para trás. Por um lado, Flee traça, inevitavelmente, um paralelismo com os refugiados da actualidade, que fogem da guerra, na Ucrânia, Síria, Afeganistão e tantos outros locais, e sujeitam-se aos maiores perigos para alcançar a segurança de um território em paz; por outro, leva-nos a conhecer (ou recordar) a realidade vivida na viragem da década de 1980 para 1990, que muitos ignoram ou cujos horrores não foram devidamente divulgados - tanto no Afeganistão, como na Rússia pós- queda do muro de Berlim.

As dificuldades na fuga, a corrupção da sociedade e a ineficácia de algumas instituições constituem cada novo obstáculo no caminho de Amin e da família e reflectem o desespero e o terror latente no seu dia-a-dia.

E nesta longa luta pela sobrevivência, Amin foi crescendo, descobriu - e questionou - a sua sexualidade, mas, principalmente, quis fazer valer todo o sofrimento, construindo uma carreira académica sólida e de sucesso.


Jonas Poher Rasmussen cria um diário animado de um homem que conta todos os seus segredos a um realizador, qual consultório de psicoterapia, exorcizando um Passado traumático com pesadas implicações no Presente. 

Um trabalho comovente e actual, feito com a criatividade necessária para que, pelo menos em cada sala de cinema onde Flee seja projectado, Amin possa ser totalmente livre para contar a sua verdadeira história.

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