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segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Crítica: Nope (2022)

"What's a bad miracle?"

OJ Haywood

*8/10*

Jordan Peele continua a sua incursão pelo cinema de terror com Nope, a desbravar novos subgéneros, e onde a História do Cinema (desde logo a referência a Sallie Gardner at a Gallop, de 1878, de Eadweard Muybridge, em que 24 fotografias tiradas em rápida sucessão, mostram um cavaleiro negro a galope no cavalo que dá título ao conjunto de imagens em movimento) e as influências do realizador mantêm um papel preponderante.

"OJ e Emerald Haywood, interpretados por Daniel Kaluuya e Keke Palmer, são dois irmãos com personalidades opostas, que ficam encarregues de tomar conta do rancho, após a morte do seu pai, atingido por objetos aleatórios caídos do céu. Este acontecimento deixa OJ perturbado, desconfiando que se passa algo de muito estranho na, até então tranquila, localidade de Agua Dulce. Os irmãos empenham-se na resolução deste mistério na esperança de conseguirem a fotografia que lhes trará fama e dinheiro...".

Peele reencontrou o equilíbrio que parecia ter perdido em Nós. Nope tem ideias bem desenvolvidas e o mesmo nível de originalidade que Foge, de 2017, que o colocou entre os grandes do cinema de terror actual. Desta vez, o desconhecido espreita por entre as nuvens, e parece maior do que as possibilidades de combatê-lo. 

E assim, apelando aos filmes de OVNIS, extraterrestres e criaturas de outro mundo, Nope constrói-se sob o mistério que paira nos céus, vomita pequenos objectos capazes de fazer graves danos, rapta cavalos durante a noite e perturba a rede eléctrica da região. Enquanto Emerald prefere deixar tudo para trás, OJ não pretende abandonar a sua casa, cavalos nem rancho. Quer enfrentar o medo, qual cavaleiro destemido. A irmã acaba por ser sua aliada, sempre com o foco na possibilidade de ser famosa.


Com personagens fortes e icónicas, quase todas marcadas pela tragédia - uns, como Jupe, que a usam para se promoverem; outros, como OJ, que a querem superar através do legado que lhes foi deixado -, Jordan Peele joga com os conceitos de presa e predador e de sensacionalismo, criando a espectacularidade que tanto se fala ao longo do filme. Tudo é inesperado, aterrador, mas igualmente cómico em muitos momentos.

Sendo a sua primeira obra filmada em película, o realizador não deixou de fazer uma homenagem ao suporte analógico, através da personagem de Antlers Holst (o realizador em busca do plano impossível, interpretado por Michael Wincott), fascinado por predadores, e sempre munido da sua câmara. Nope é mais uma prova da intemporalidade e quase infalibilidade do analógico, em detrimento do digital.


Mistério, humor e muitas referências cinematográficas, fazem de Nope mais uma prova da criatividade de Jordan Peele, que reforça a sua posição como um dos mais notáveis realizadores de terror da actualidade.

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