terça-feira, 25 de outubro de 2022

Crítica: A Pior Pessoa do Mundo / Verdens verste menneske / The Worst Person in the World (2021)

"I wasted so much time worrying about what could go wrong. But what did go wrong, was never the things I worried about."

Aksel

*8.5/10*

Joachim Trier nunca traz temas fáceis para o seu cinema. Na aparente simplicidade dos seus filmes, há uma complexidade de emoções e sentimentos. A Pior Pessoa do Mundo é mais um exemplo - talvez o melhor da sua carreira - de como uma longa-metragem é capaz de criar um conflito de sentimentos na plateia, ao mesmo tempo que retrata as personagens com um realismo tão doce como cruel - tal qual a vida.

"Prestes a completar 30 anos, Julie vive uma crise existencial. É então que, entre a sua agitada vida amorosa e a luta para encontrar um percurso profissional, decide olhar de forma realista para quem ela realmente é."

Julie é uma personagem ambígua, nem sempre será fácil empatizar com as suas (in)decisões ou atitudes. Ela não sabe o que quer, é a eterna insatisfeita e vive na busca incessante por novas experiências e pelo real sentido da vida. Julie é um turbilhão de emoções e os dois homens que cruzam a sua vida deixam-se arrebatar pelo seu espírito livre e inquieto. Ela adapta-se a cada um deles, mas sempre com um vazio por preencher. Renate Reinsve tem a leveza ideal para o papel e vive intensamente a personagem, tanto na luminosidade de um sorriso sincero, como nas lágrimas que espelham a dor de escolhas ou momentos difíceis.

Anders Danielsen Lie é arrebatador, na pele de Aksel, artista de banda desenhada de sucesso que sente que vive fora do seu tempo. A aparente tranquilidade da sua personagem esconde angústias e sonhos desfeitos e o actor dá-lhe profundidade tal que é impossível ficar-lhe indiferente. É uma espécie de voz da razão na vida de Julie, a estabilidade que tanto a assusta como a deseja.

Por sua vez, Oslo está novamente a acompanhar a acção, no filme que encerra a trilogia de Trier em redor da cidade, depois de Reprise (2006) e Oslo, 31 de Agosto (2011). Em A Pior Pessoa do Mundo, as ruas de Oslo são local de introspecção, reflexão e tomada de decisões para Julie - uma cidade confidências e desabafos. Trier filma-a tirando partido da sua luz, captada em película de 35mm, potenciando os momentos de tristeza, desespero, alegria e esperança.

Divido em 12 capítulos, prólogo e epílogo, A Pior Pessoa do Mundo pode aparentar, por vezes, um certo pretensiosismo a pairar sobre algumas das opções do realizador. Uma das escolhas que nem sempre resulta é a narração que vai acompanhando a acção em determinados momentos da longa-metragem.

Por outro lado, há uma imagética muito particular no olhar de Joachim Trier, dotada de uma jovialidade que vai amadurecendo, no decorrer da narrativa, tal qual a protagonista; a juntar às opções estéticas, algumas delas quase surrealistas, que fazem as personagens sonhar. Há momentos mágicos, planos-sequência muito íntimos, movimentos de câmara mais arrojados, num conjunto que torna A Pior Pessoa do Mundo num dos filmes mais bem conseguidos do último ano.

Sem julgamentos, assistimos a quatro anos na vida de uma mulher que representa uma geração perdida em incertezas e insegurança. Adiando a estabilidade de um futuro certo, mais cedo ou mais tarde, Julie encontrará o seu caminho, tal qual cada pessoa do mundo, e será finalmente protagonista da sua própria vida.

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