domingo, 2 de março de 2025

Crítica: Flow - À Deriva / Straume (2024)

*8/10*

Gints Zilbalodis mostra como um filme sem falas não tem de ser um filme mudo com Flow - À Deriva. Uma chamada de atenção para o futuro do planeta e seus habitantes e para o perigo das alterações climáticas. 

"O mundo parece estar à beira do fim, marcado pelos vestígios deixados pela presença humana. Um gato, solitário por natureza, vê a sua casa ser destruída por uma cheia catastrófica. Encontra refúgio num barco habitado por diversas espécies, com as quais terá de colaborar, apesar das suas diferenças. Neste barco à deriva, que navega por entre paisagens místicas e inundadas, os animais terão de enfrentar os desafios e perigos de se adaptarem a um novo mundo."

Eis um futuro em que os animais sobrevivem aos humanos, sendo obrigados a adaptar-se ao novo mundo, às catástrofes naturais e a cada nova mudança. A personagem principal é um gato, que passa os dias entre a tranquilidade da casa de um antigo amante de gatos - não faltam esculturas em variados tamanhos a endeusarem os felinos -, o seu porto seguro, e a liberdade do campo, onde procura comida e água, e se depara com outros animais que ameaçam a sua segurança. Até ao dia do dilúvio, que o obriga a fugir e a sobreviver num barco, numa união necessária com espécies tão distintas da sua, qual arca de Noé sem humanos.

Nesta necessária união para a sobrevivência, há zangas, receios, mas também confiança e amparo. Os sons e expressões físicas de cada espécie - muito realistas e bem captadas - transmitem tudo o que não precisa ser dito por palavras, capaz de emocionar a plateia embevecida. 

A animação é simples, mas extremamente bela e cuidada, retratando cada pequeno pormenor das atitudes dos animais - cães e gatos em particular -, e tratando a representação da água como se fosse real. A água que é, aliás, a maior agente de mudanças na narrativa de Flow - À Deriva, um bem tão precioso como potencialmente letal, em algumas situações.

Gints Zilbalodis foca-se na inesperada compreensão e entreajuda entre espécies diferentes. O carinho, a fidelidade aos seus, mas igualmente a mágoa por não se ouvir os mais experientes. O desejo de sobrevivência pode puxar pelo lado bom ou mau de cada ser, humano ou não. Aqui, o bem parece predominar, mas há instintos básicos que alguns não conseguem apagar da memória. Flow - À Deriva é uma lição para os humanos, em tempos tão instáveis e extremados.

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