25-abril-billboard

segunda-feira, 13 de maio de 2019

IndieLisboa'19: 3 Rostos/ 3 Faces (2018)

*7.5/10*


Jafar Panahi continua a "cumprir" a pena de 20 anos sem filmar a que foi condenado em 2010, supostamente por fazer propaganda contra o governo iraniano. Ora, nos primeiros oito anos destas duas décadas já podemos contar com quatro longas-metragens (Isto Não É Um Filme, Pardé, Táxi e 3 Faces)  na sua filmografia - clandestinas, mas que chegam ao mundo inteiro, felizmente.

3 Faces (3 Rostos) é o seu filme mais recente, onde explora o feminismo e a forma como as mulheres continuam a ser tratadas no Irão, em especial em regiões mais isoladas. Ao mesmo tempo, traça um retrato do Irão mais "profundo", numa espécie de road movie, por estradas estreias e sinuosas, em que as buzinadelas funcionam como código entre condutores.


Três actrizes em diferentes estágios da sua carreira e de três gerações distintas são o foco de 3 Faces. Uma delas, foi uma estrela antes da Revolução Islâmica de 1979, outra é uma actriz dos dias de hoje, famosa por todo o país, e a mais nova é uma jovem que ambiciona entrar no conservatória, mas cuja família proíbe.

Humor, drama e suspense, os três géneros juntam-se neste filme de Panahi que também tem muito de documental, a começar por todas as personagens se interpretarem a elas mesmas, realizador incluído. Jafar Panahi, acompanhado por Behnaz Jafari, imiscui-se entre as pessoas daquela aldeia conservadora e retrógrada, onde as mulheres continuam a ser subjugadas e proibidas de estudar ou seguir os seus sonhos. Isolados de tudo, vêem no gado uma importante forma de subsistência.

Ao mesmo tempo, o misterioso desaparecimento da jovem Marziyeh - que enviou um vídeo desesperado a Jafari a pedir ajuda - transforma 3 Faces num filme de detectives.


Nos encontros que Panahi e Jafari vão tendo ao longo da viagem, conhecemos a hospitalidade dos locais, mas descobrimos igualmente mais tradições ancestrais que podem por em causa a própria presença do realizador e da actriz, ou pelo menos, alterar-lhes um pouco crenças e comportamentos. Behnaz Jafari, muitas vezes pensativa, parece recordar tudo pelo que passou para seguir a carreira artística.

3 Faces dá continuidade à crítica cerrada que Jafar Panahi tem construído ao longo da sua obra, ao mesmo tempo que faz um elogio às actrizes e às Mulheres.

Sem comentários: