No ano do falecimento do cineasta português Fernando Lopes, o Doclisboa'12 não podia deixar de lembrar o trabalho do realizador, tão importante no campo do documentário em Portugal. Antes da exibição de As Pedras e o Tempo - Évora, Cinema e Olhar/Ver – Gérard, Fotógrafo, Augusto M. Seabra e Susana Sousa Dias introduziram a sessão. Seabra destacou a "importância decisiva [de Fernando Lopes] na história do documentário em Portugal", e explicou a decisão de se fazer "uma homenagem menos óbvia" ao cineasta, apresentando filmes quase desconhecidos do público, ao invés de optar pela escolha mais fácil que seria Belarmino.
As Pedras e o Tempo - Évora *6.5/10*
Curta documental de 1961 encomendada pelo regime. As Pedras e o Tempo mostram-nos Évora, os seus monumentos, as suas ruas, a sua vida e a da planície que a cerca. São-nos mostrados os trabalhadores no campo, a feira que acontece na cidade uma vez por ano, os dias na Universidade... E os monumentos, as pedras que contam a história de um povo e da própria cidade de Évora.
Cinema *8/10*
Cinema pretende revisitar o Teatro Sá da Bandeira, no Porto, no ano em que a cidade foi a Capital Europeia da Cultura. É um elogio a esta sala, mas, ao mesmo tempo, ao próprio cinema.
Os primórdios do cinema português são evocados, logo no início da curta-metragem. Ficamos perante imagens do primeiro filme português, de Aurélio da Paz dos Reis: Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança, que data de 1896. Segue-se uma apresentação do espaço do Teatro Sá da Bandeira, que nos é mostrado de forma hipnótica, vazio, ao mesmo tempo que ouvimos passos. As suas cores, vibrantes, conferem uma envolvência muito especial a quem assiste. Há a referência ao cinema pornográfico, que marcou a história da sala. E é-nos apresentado o projeccionista, Jorge José da Silva, que ali trabalha há muitos anos e tem muitas histórias para contar. Isabel Ruth protagoniza outros dos momentos mais absorventes deste Cinema, todo ele um pedaço de arte.
Olhar/Ver – Gérard, Fotógrafo *7/10*
Fernando Lopes faz aqui um "retrato" de Gérard Castello Lopes, no que toca à sua importância no contexto da fotografia contemporânea e, especialmente, para a fotografia portuguesa. Com as participações especiais de Maria João Seixas e Alexandre Pomar, Lopes cria uma intimidade que nos prende a este olhar de Gérard, Fotógrafo.
Desde o início do gosto por fotografar, passando pela fase de o fazer para testemunhar, onde a época parecia pedir por tal, até, passados 17 anos, cansado da dificuldade em fotografar quem não quer ser fotografado, a sua preocupação se ter alterado. Gérard começou a fotografar o registável, a natureza, querendo sempre alcançar o paradoxo - a realidade como ilusão. As mudanças na forma de olhar/ver o que o rodeia ao longo de uma vida, conforme a multiplicidade de experiências vividas. Olhar/Ver - Gérard, Fotógrafo conta-nos tudo, na pessoa do próprio Castello Lopes.
3 comentários:
Como sabes, sou um grande apreciador do cinema de Fernando Lopes.
E estes três documentários, que nunca vi e por ti realçados e classificados de forma interessante, suscitam-me enorme interesse.
Óptimo texto :*
Cumps cinéfilos :*
Obrigada, Sam. Penso que, especialmente o segundo, te agradaria bastante. :)
Cumprimentos cinéfilos :*
Elogio a uma sala e, ao mesmo tempo, ao próprio cinema? Definitivamente que me vai agradar! :) :*
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