"Anna isn't a criminal, but she broke the rules!"Condessa Nordston
*7.5/10*
Joe Wright quis trazer Anna
Karenina, de Tolstoy, uma vez mais para o cinema, mas ousou
muito mais, transbordando originalidade e desconstrução, numa longa-metragem
que confunde teatro e cinema, sem nunca esquecer para que plateia trabalha.
É inesperado o fulgor que o realizador foi capaz de dar a
uma história que pouco tem de extraordinário ou cativante. Todavia, o resultado
é um filme com cenas por vezes hipnotizantes, onde as componentes visual e
artística se sobrepõem de tal modo ao fraco argumento, que desvanecem o tédio
que este poderia gerar.
A história desenrola-se na Rússia, em finais do século
XIX, no seio da alta-sociedade, e explora a capacidade de amar, desde a paixão
entre adúlteros, à ligação entre uma mãe e o seu filho. Quando Anna (Keira
Knightley) questiona a sua felicidade, grandes mudanças ocorrem na sua
família, amigos e comunidade.
A par de Karenina, que encontra consolo no Conde Vronsky,
para fazer face a um casamento pouco feliz com o político Karenin, é-nos
apresentado o jovem Levin que luta pelo amor da princesa Kitty.
Uma história que pouco interesse desperta ao lado do triângulo protagonista.
Amor, traições, tragédia, uma
época, um país, uma sociedade. Anna Karenina não traz,
argumentativamente, nada de novo, mas é sobre esse enredo banal (de duas
histórias de amor) que constrói uma estranheza encantadora. Aqui, o teatro
entra literalmente dentro do cinema, e os cenários mudam à nossa frente. Os
bastidores não nos são escondidos, bem pelo contrário, servindo, constantemente,
cada cena, cada movimento, fazendo com que o filme se construa, na sua grande
maioria, entre eles e o palco. A ilusão e o artifício que o cinema poderia
criar são desmontados perante os nossos olhos. O que pode provocar essa inicial
estranheza, depressa se assume como uma ironia natural (onde o expoente máximo
será talvez a cena da corrida de cavalos), construída de forma a oferecer um
novo fôlego a uma história tão simples.
O motor da longa-metragem é toda
a componente técnica, desde a realização, que nos proporciona alguns
planos-sequência fabulosos, ou, outras vezes, ilusões de continuidade
arquitectadas de forma perfeita; à fotografia, a cargo de Seamus McGarvey,
que joga com cenários e iluminação de forma genial, oferecendo-nos, conforme a
situação, uma gélida Rússia, escura e repleta de cores frias, os momentos
luminosos de amor quente entre Karenina e Vronsky, ou a
alternância entre claros e escuros que varia consoante a
felicidade/infelicidade da protagonista; à banda sonora a condizer, a cargo de Dario
Marianelli; aliada a uma direcção artística de excelência, onde actores e
figurantes estão exemplarmente coreografados, conferindo, eles mesmos, uma
musicalidade muito especial a Anna Karenina, que poderia ser
apelidado como um filme “dançante”, especialmente na sua primeira
metade.
Também os pormenores conferem algo de especial a Anna
Karenina, desde os espelhos, aos comboios, e mesmo, claro, o subtil tom
premonitório presente ao longo da longa-metragem. O elenco, com nomes como Keira
Knightley, Jude Law ou Aaron Taylor-Johnson, tem
interpretações razoáveis, onde é a actriz que se destaca, provando, uma vez
mais, como está à vontade em papéis de época. Knightley veste bem a pele
da protagonista cheia de amor e coragem, e ofusca com o seu brilho a história
paralela de Levin e Kitty.
É a superioridade técnica e
artística de Anna Karenina que dá ao argumento a cor e paixão que
lhe faltam, provando o filme ser digno das quatro nomeações que detém aos
prémios da Academia, nas categorias de Melhor Fotografia, Melhor Direcção
Artística, Melhor Guarda-Roupa e Melhor Banda Sonora.
1 comentário:
A melhor interpretação para mim foi a do Aaron, por isto reassisti algumas vezes
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