*7.5/10*
No primeiro dia do MOTELx 2013, We Are What We Are marcou o fim de tarde na Sala 3 - praticamente lotada - do Cinema São Jorge. O mais recente filme de Jim Mickle - realizador de Stake Land, que encerrou o MOTELx 2011 - é uma "re-invenção" do filme mexicano Somos lo que Hay (Jorge Michel Grau), de 2010. Depois da estreia mundial em Sundance, em Janeiro, a longa-metragem foi seleccionada para a Quinzena dos Realizadores de Cannes.
Numa pequena cidade dos EUA, a família Parker, comandada pelo severo patriarca Frank, é conhecida pela discrição e hábitos reclusivos. Após a morte da mãe, as filhas Iris e Rose terão de cuidar do irmão mais novo, o pequeno Rory, ao mesmo tempo que irão prosseguir uma ancestral e macabra tradição familiar.
Jim Mickle traz-nos uma bela surpresa para começar bem o MOTELx. Uns Estados Unidos pobres e isolados, que um temporal deixa sem luz e comunicações caóticas, são o palco das revelações, que vão tendo lugar e surpreendendo o espectador, num ritmo aparentemente tranquilo mas cada vez mais intenso, até ao último minuto.
O ambiente é agradável, muito indie, com paisagens de um interior recôndito, onde a fotografia, sob a direcção de Ryan Samul, nos oferece excelentes momentos. O paralelismo feito entre a história passada no século XVIII e lida pela família Parker num diário, e o presente, revela-se interessante para a narrativa e pode desencadear diversas leituras.
A relação entre o pai e as duas filhas está no centro da história, com as duas jovens a revelarem muito sangue frio e a angústia de viver entre aquilo que acham que é certo e o que o patriarca lhes ensina como tal. As personagens são um ponto forte, especialmente os três protagonistas - Frank, Rose e Iris -, com boas interpretações da parte de Bill Sage, autoritário e animalesco, Ambyr Childers, na pele da irmã mais velha, que vê a seu cargo o peso da tradição de família, e, especialmente, Julia Garner, a mais jovem, rebelde, ciumenta e protectora.
We Are What We Are é envolvente, e alia a beleza à crueldade visual. Em jogo estão sentimentos fortes, o crescimento, a construção da identidade e a conquista da independência. Três jovens são colocados à prova, contra tudo o que lhes tem sido imposto. A acção decorre em crescendo, culminando num final muito bem executado.
Para quem ainda não viu, o filme de Jim Mickle repete no próximo Domingo, dia 15, às 22h00, na sala 3.
2 comentários:
Assisti o filme ontem, sem pretensões, e confesso que foi "mais do que eu esperava". Final é de te deixar "boquiaberto e pasmo", adorei o filme!
E parabéns pela critica tão bem construída, reflete mesmo a atmosfera do filme... mas eu iria além, e afirmo que é um filmaço. Não tenho medo dos xiitas cinéfilos me criticarem por dizer "filmaço", a entender: Filmaço para o genero e proposta. Adorei.
Muito obrigada, Alex. O filme é, realmente e como diz, um "filmaço". :)
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