*9/10*
No terceiro dia de DocLisboa'13, Sábado, a secção Riscos abriu a tarde na Sala Manoel de Oliveira, no Cinema São Jorge. O filme - arriscado - é Pardé (ou Closed Curtain), realizado por Jafar Panahi (realizador iraniano que cumpre uma pena de proibição de filmar por 20 anos) e Kamboziya Partovi, e foi apresentado por Augusto M. Seabra.
Depois de Isto não é um Filme, que também passou pelo DocLisboa em 2011, Jafar Panahi volta a desafiar a proibição que lhe foi imposta e faz chegar ao mundo mais uma obra avassaladora que merece ser vista e espelha uma difícil realidade. A deambular entre documentário e ficção, Closed Curtain parece fugir apenas para o fictício, mas é muito mais real do que à partida faz crer.
Numa casa, à beira-mar, as cortinas estão fechadas e as janelas foram cobertas de negro. Lá dentro, esconde-se um escritor com o seu cão. Inesperadamente, surge uma jovem mulher misteriosa, que se recusa a ir embora, deixando o homem pouco à vontade. Contudo, ao nascer do dia, outra chegada irá perturbar todos.
Cheio de simbologia, em cada movimento, em cada personagem, Closed Curtain tem tudo para ser um dos melhores filmes do DocLisboa'13. Premiado em Berlim com o Urso de Prata para Melhor Argumento, Jafar Panahi continua, contra tudo e contra todos (pelo menos no seu país), a mostrar ao mundo o desespero que o consome. Closed Curtain é um desafio, não somente às autoridades iranianas, mas ao espectador, que não estará de todo preparado para o que se segue. A longa-metragem apela às interpretações de cada um, e é um retrato psicológico do realizador e do que o apoquenta, numa realidade semelhante à sua.
Kamboziya Partovi, para além de co-realizar esta obra, é também o protagonista, o escritor que se isola nesta casa à beira-mar com o seu expressivo cão. Percebemos rapidamente que este homem se esconde, que é perseguido. Ele fecha todas as janelas com panos pretos para não deixar passar a luz, para que ninguém perceba que há vivalma naquele local. Contudo, quando Melika e o seu irmão ali surgem em busca de abrigo - também eles são perseguidos -, toda a tranquilidade e solidão que o escritor procura se altera bruscamente. A manhã seguinte irá trazer-nos novas revelações e, talvez, algumas explicações.
A personagem de Partovi é um espelho de Panahi, um perseguido que tem de se esconder para poder fazer o seu trabalho e proteger o seu animal de estimação. Há alguns anos - tudo parece ter piorado em 2013 -, que os cães não são permitidos no Irão. A quem for apanhado a passeá-los, "apreendem" o animal, levando-o para um local secreto, provavelmente para ser morto. Relativamente a este tema, Panahi e Partovi incluem no filme o pequeno cachorro do escritor, que também ali se esconde para não passar pela realidade a que assiste na televisão - um bela e triste cena de Curtain Closed.
Por seu lado, a misteriosa Melika, que dizem-nos ter tendências suicidas, surge simbolicamente como a repressão do país. Sempre à espreita, sempre a perturbar o escritor enquanto este tenta trabalhar, sempre a dar sugestões pouco felizes - mesmo a Panahi. Ela aparece e desaparece quando menos se espera.
Mas não é só em termos argumentativos que Curtain Closed prima pela genialidade. Realização, fotografia (a cargo de Mohammad Reza Jahanpanah) e montagem (a cargo do próprio Panahi) oferecem-nos planos de grande beleza, que, por vezes, jogam com espelhos, deixando-nos ainda mais no limbo entre o real e o imaginário. O filme tem uma construção desafiante - Panahi mistura-se com a sua criação e funde-se nela.
Curtain Closed é um desesperante retrato do estado psicológico de Panahi face às restrições que lhe foram impostas, e de uma realidade que ainda nos é muito distante. Cabe-nos a nós encontrar todos os significados escondidos por detrás desta cortina fechada e desconstruí-los.
Kamboziya Partovi, para além de co-realizar esta obra, é também o protagonista, o escritor que se isola nesta casa à beira-mar com o seu expressivo cão. Percebemos rapidamente que este homem se esconde, que é perseguido. Ele fecha todas as janelas com panos pretos para não deixar passar a luz, para que ninguém perceba que há vivalma naquele local. Contudo, quando Melika e o seu irmão ali surgem em busca de abrigo - também eles são perseguidos -, toda a tranquilidade e solidão que o escritor procura se altera bruscamente. A manhã seguinte irá trazer-nos novas revelações e, talvez, algumas explicações.
Por seu lado, a misteriosa Melika, que dizem-nos ter tendências suicidas, surge simbolicamente como a repressão do país. Sempre à espreita, sempre a perturbar o escritor enquanto este tenta trabalhar, sempre a dar sugestões pouco felizes - mesmo a Panahi. Ela aparece e desaparece quando menos se espera.
Mas não é só em termos argumentativos que Curtain Closed prima pela genialidade. Realização, fotografia (a cargo de Mohammad Reza Jahanpanah) e montagem (a cargo do próprio Panahi) oferecem-nos planos de grande beleza, que, por vezes, jogam com espelhos, deixando-nos ainda mais no limbo entre o real e o imaginário. O filme tem uma construção desafiante - Panahi mistura-se com a sua criação e funde-se nela.
Curtain Closed é um desesperante retrato do estado psicológico de Panahi face às restrições que lhe foram impostas, e de uma realidade que ainda nos é muito distante. Cabe-nos a nós encontrar todos os significados escondidos por detrás desta cortina fechada e desconstruí-los.
Curtain Closed voltará a ser exibido no DocLisboa'13 no dia 31 de Outubro, às 16h30, no City Alvalade - Sala 1.
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