sexta-feira, 14 de março de 2014

Já Vi(vi) este Filme, por André Vieira

Já Vi(vi) este Filme
Por André Vieira, de Cultures are not opinions e Espalha-Factos

Para compreenderem o meu caso meio lunático, é necessário explicar brevemente o que é a série Twin Peaks e a forma como a adaptação para o cinema, é uma presença assídua na minha vida. 

Twin Peaks foi uma série americana criada por Mark Frost e David Lynch, carregada de simbolismo, fenómenos estranhos e uma simplicidade impressionante devido à qualidade do enredo e ao carisma das personagens.

Após o sucesso do drama, foi planeada uma trilogia que prometia mais do mesmo - desta vez no grande ecrã - mas que resultou apenas numa longa-metragem devido à reacção nas bilheteiras.

É complicado explicar a minha ligação com o filme Twin Peaks: Os últimos dias de Laura Palmer mas tudo começou quando tinha provavelmente 14 ou 15 anos. É verdade que os sonhos são fragmentos estranhos do nosso subconsciente (que decide misturar tudo o que vivemos ou ir buscar referências a filmes, livros ou até mesmo pessoas que vemos na rua) mas o que se passou foi completamente estranho.

Por volta dessa idade comecei a ter sonhos peculiares que eram fantásticos e ao mesmo tempo um pouco aterrorizantes. Nestes sonhos, eu encontrava-me no meio de uma floresta ou num espaço vazio e, a certa altura, dava por mim num grande recinto com cortinas vermelhas e várias cadeiras. Um grave caso de paranóia. 

À medida que ia avançando, a sala preenchia-se com convidados (não me perguntem de onde) que conversavam entre si, jogavam às cartas ou simplesmente ficavam lá parados. Eram sonhos muito estranhos. E não tinham um ritmo certo. De vez em quando, dava por mim naquela sala sem saber muito bem porquê. 

Anos mais tarde, um leque de coincidências levou-me ao filme Twin Peaks: Os últimos dias de Laura Palmer. Tudo começou quando descobri uma banda chamada Blood Red Shoes de rock alternativo. Ao explorar mais sobre a banda na Internet, descobri que eram fãs de uma série chamada Twin Peaks. Sem saber do que se tratava, procurei referências. Como uma coisa leva à outra, encontrei um site que tinha os episódios da série. Curioso, decidi dar uma vista de olhos mas não me impressionou. Decidi então, tentar ver o filme e foi aí que tudo começou a fazer sentido.


A dada altura, os personagens encontram-se todos numa enorme sala com cortinas vermelhas com alguns sofás, uma estátua da Vénus de Milo e falavam entre si. No fundo, ouve-se uma música com um toque de jazz enquanto alguém estala os dedos. Este pequeno "episódio" deixou-me de queixo caído. Era praticamente igual ao meu sonho. As cortinas, os indivíduos a falar, o surrealismo.

Coincidências a mais, não acham? Uma das coisas que não existia no meu sonho era o padrão do chão. Acontece que uns dias mais tarde após ver o filme, comecei a ver aquele chão aos ziguezagues em várias ocasiões. Era uma presença assídua na série e ainda aparecia, muito discretamente, em várias longa-metragens do David Lynch. Para além disto, a localização do filme é idêntica a um dos meus destinos de férias preferidos, como vão perceber mais a frente.

Já concluída a visualização da série e da longa-metragem, fui, nesse ano, de férias para o mesmo destino de sempre - Ferreirós do Dão, uma pequena aldeia que pertence ao concelho de Tondela. Qual não é o meu espanto, quando me dá uma clara sensação de "Hey... Eu já vi(vi) este filme". A floresta quase engolia aquela povoação milenária. Uma clara sensação de deja-vú atravessou-me a mente quando, um dia, decidi fazer uma caminhada com uns amigos. A aldeia assemelhava-se demasiado à cidade de Twin Peaks. À noite, uma sensação de pavor invade Ferreiros do Dão. É o cenário quase perfeito para filmes de terror. Não se vê ninguém na rua por volta das nove da noite, os candeeiros estão praticamente todos arruinados e emitem uma luz agitada e uma calma enorme atravessa a aldeia tal como no filme. Além de tudo isto, as coincidências não acabam aqui. Existe ainda uma pequena cascata como na cidade de Twin Peaks.


Paranóia ou não, são factos demasiado semelhantes e complicados de explicar. É como se o mundo do filme estivesse sempre à frente dos meus olhos e só agora é que comecei a perceber isso. Mesmo assim, espero um dia visitar a verdadeira localização das filmagens e ver onde é que isso me leva...

Premonição ou coincidência? Vocês decidem.

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Obrigada pela tua participação, André!