domingo, 1 de janeiro de 2017

Crítica: American Honey (2016)

"So you're a southern girl. A real American honey like me. You know that song?"
Krystal

*7.5/10*

American Honey vive na doce rebeldia da sua protagonista. Balança entre a juventude perdida, nómada e fora da norma, e os sonhos. Entramos numa road trip pela América profunda conduzida pela realizadora Andrea Arnold e deixamo-nos levar.

Star é uma adolescente sem nada a perder, que se junta à equipa de venda de assinaturas de revistas. Vê-se envolvida num turbilhão de festas, ilegalidades e amor enquanto cruza o interior dos Estados Unidos com um grupo de jovens desajustados.

Uma história simples, suja, mas luminosa. Como se a mais triste das personagens fosse iluminada pela esperança e sonhos pelos quais luta. Os momentos delicodoces retiram a possibilidade de vermos American Honey com o realismo que ele poderia querer transmitir, mas não deixam de transportar-nos para um mundo tão decadente como fascinante. Viver no limite, sem nada que nos prenda a qualquer lugar.


O filme embala-nos numa realidade à parte, especialmente devido à protagonista, a estreante Sasha Lane. Como Star, ela é literalmente a Estrela da longa-metragem. Tem uma interpretação apaixonante, contida, mas muito expressiva.

Estes outsiders da sociedade cativam-nos principalmente pela liberdade que apregoam, mesmo que estejam limitados por regras e rituais que lhes tiram a independência. Star é a outsider entre os outsiders. Fala pouco, observa mais do que dá nas vistas, apaixona-se e age por instinto. Ela tem uma inocência que, ao mesmo tempo, a protege, uma personalidade dura, mas cheia de princípios. Star comove-se sem chorar, enfurece-se sem explodir e vive numa fabulosa união com a Natureza que a rodeia. Star, ou Sasha, é apaixonante. É ela o íman que nos prende às mais de duas horas e meia de American Honey, sem desistir.


A realização proporciona-nos planos marcantes, em especial na relação com a Natureza, e em muito contribui para a nossa aproximação às personagens, com o recurso maioritariamente à hand-camera. A luz, as cores quentes e os cenários, bem como a banda sonora, estabelecem um contraste formidável entre o visual aconchegante e a temática depressiva, criando o equilíbrio necessário.

American Honey vive de Star, que ofusca o argumento pouco elaborado. A simplicidade da história de Andrea Arnold é enriquecida pela protagonista, exemplarmente escolhida, e pelas pequenas alegrias da vida destes jovens esquecidos no mundo.

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