O MOTELx'17 está em Lisboa entre 5 e 10 de Setembro, e para o Prémio MOTELx – Melhor Curta de Terror Portuguesa 2017 estão a concorrer 9 curtas-metragens nacionais: #blessed, de Diogo Lopes; Carga, de Luís Campos; Depois do Silêncio, de Guilherme Daniel; Entelekheia, de Hugo Malainho; A Instalação do Medo, de Ricardo Leite; Mãe Querida, João Silva Santos; O Candeeiro - Um Filme à Luz de Lisboa, de Henrique Costa e Hugo Passarinho; Revenge Porn, de Guilherme Trindade e Thursday Night, de Gonçalo Almeida.
Seguimos com as entrevistas aos realizadores dos filmes nacionais seleccionados. Ficamos desta vez a conhecer João Silva Santos, realizador de Mãe Querida.
De onde surgiu a ideia de fazer este filme?
João Silva Santos (JSS): Desde que vi o Phantom of the Paradise do Brian De Palma que quis escrever uma rock opera cinemática. Como fã (não fanático) dos Xutos & Pontapés, tentei aliar o útil ao agradável e criar algo com a mesma energia desse mestre americano, mas inextricavelmente português. Tal não aconteceu: o Mãe Querida evoluiu bastante desde essa ideia inicial (nem sequer uma música deles tem!), tornando-se muito mais pesado e estranho em lugares, mas gosto de pensar que certos momentos e sequências sobreviveram às cambalhotas criativas que o filme acabou por dar.
Da sinopse de Mãe Querida, concluo que a bruxaria e o misticismo que lhe está associado parecem fundir-se aqui com uma realidade de violência familiar. É como se Matilda se quisesse refugiar na fantasia para fugir aos problemas reais?
JSS: De certo modo, sim. Esta é uma daquelas perguntas a que não quero dar muitas respostas antes de terem a oportunidade de ver o filme: a narrativa torce-se e distorce-se por entre esse misticismo e violência familiar, com personagens que não sabemos serem reais até ao último momento, figuras espectrais que porventura só depois do filme visto e umas conversas (com cerveja e boa disposição, preferencialmente) é que acabam por fazer sentido.
O que pode o público esperar da curta-metragem?
JSS: Acima de tudo, muita música da Ágata e companhia. Mãe Querida não seria o mesmo filme sem essa trilha sonora oh-tão portuguesa.
Trabalhou com actrizes conhecidas do grande público, em especial São José Correia. Como correram as filmagens?
JSS: Uns dias mais atribulados, outros menos. Mas nunca por culpa das actrizes! Tanto a Susana Sá como a Diana Lopes Moreira e a São José Correia foram incansáveis em tornar o filme melhor do que alguma vez poderia ter desejado quando o escrevi. Aturaram muito dos meus desvarios e espero apenas que a experiência para elas tenha sido tão positiva quanto para mim, e que me queiram aturar de novo. Quiçá, com ainda mais sangue e violência.
Qual o papel dos festivais de cinema no campo da divulgação do cinema nacional? Que mais pensa que pode ser feito neste campo?
JSS: Acho que mais que nas grandes salas destinadas ao blockbuster americano, é nos festivais que o público português pode encontrar o verdadeiro cinema do seu país. Pode nem sempre ser o mais fácil (quase nunca o é), nem o que mais recompensa, mas é nosso e existe e nunca tivemos tanto acesso a ele e aos seus criadores. No entanto, acredito que precisamos de uma maior variedade de festivais, que atraiam públicos distintos e apaixonados, como o do MOTELx. Para isso precisamos também de uma maior variedade de filmes, que se afastem dos paradigmas vigentes na nossa produção contemporânea, ou demasiado presa a códigos de autor, ou perdida na televisão glorificada que passa nas salas de cinema, condenada a perpetuar o público descrente e as massas desinteressadas na nossa cultura.
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