terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Crítica: Lady Macbeth (2016)

"Take your nightdress off. Face the wall. Face the wall!"
Alexander


*8.5/10*

Lady Macbeth é uma surpresa feminista. Da opressão, surge a revolta, depois a emancipação. A plateia apaixona-se por este drama de época com uma protagonista tão inocente como feroz, ela ama tão impiedosamente como se vinga.

Habituado às lides do teatro, William Oldroyd estreia-se nas longas-metragens com Lady Macbeth, baseada no livro de Nikolai Leskov. O realizador dá espaço e tempo às personagens que conquistam a tela, em especial Florence Pugh.


Em 1865, na Inglaterra rural, Katherine vive oprimida pelo seu casamento de conveniência com um homem azedo com o dobro da sua idade e pelo pai deste. Quando se envolve com um trabalhador da propriedade, sente libertar-se dentro de si uma força tão poderosa que nada a deterá para conseguir o que deseja.

Katherine é a jovem mulher que acompanhamos no seu, à partida, trágico fado. Nem emoções, nem aventura, nem sexo. Ela é uma boneca de porcelana que não sai de casa, mas tem de se manter acordada, de se apresentar exemplarmente vestida, tenha ou não visitas. Deve obedecer ao marido que pouco olha para ela, ao sogro que a julga e subjuga e quase até às criadas que a vigiam e denunciam.


Mas, afinal, ela é aguerrida e farta-se da sua situação de quase-prisioneira. Torcemos por ela e pelo amor proibido que descobre num jovem empregado da casa. Gostamos de vê-la lutar pela liberdade, pela sua feminilidade, pelo amor e pelo seu lugar na casa e na sociedade. Todavia, assustamo-nos com a faceta maquiavélica que Katherine revela, inesperada, fascinante. A evolução da personagem é surpreendente e Florence Pugh interpreta-a sem tabus, sem receios, num desempenho poderoso.

A história e os cenários lembram-nos Monte dos Vendavais. A direcção de fotografia faz um trabalho excelente com cores soberbas e frias. A cor azul turquesa do vestido de Katherine parece condizer com o seu coração gelado.


Com Lady Macbeth, William Oldroyd filma um perverso retrato de emancipação feminina, uma luta pela liberdade individualista, capaz de tudo. A beleza e a fraqueza juntam-se numa perigosa equação e o resultado é a nossa inevitável derrota perante esta mulher tão à frente do seu tempo.

Sem comentários: