sábado, 20 de outubro de 2018

Crítica: Terra Franca / Ashore (2018)

*8/10*


Leonor Teles é talentosa e prova-o a cada novo filme. A sua primeira longa-metragem enquanto realizadora é mais uma lufada de ar fresco no cinema nacional com uma docuficção (não consigo classificá-lo apenas como documentário) enigmática, naturalista e terna. Terra Franca é um regresso à terra onde cresceu e às pessoas que lá conheceu, centrando-se num protagonista tão forte como misterioso.

À beira do Tejo, numa antiga comunidade piscatória, um homem vive entre a tranquilidade solitária do rio e as relações que o ligam à terra. Terra Franca retrata a vida deste pescador, Albertino Lobo, atravessando as quatro estações que renovam os ciclos da natureza e acompanham as contingências da vida, tudo passado em Vila Franca de Xira.

Observa sem comentar, não levanta ondas, não partilha as suas mágoas, sorri para as mulheres da sua vida e diverte-se, de sorriso embevecido, com a picardia entre mãe e filhas. No íntimo, Albertino sofre, receia. Ele é um homem do rio e é lá que se sente bem e solto, no seu trabalho. O rio é a sua liberdade e libertação. Sem ele, a depressão paira e a esperança esfuma-se, mas Albertino não desiste.


O documentário de Leonor faz-nos chegar perto das suas personagens sem sermos intrusivos mas, ao mesmo tempo, ligamo-nos à família como se fizéssemos parte dela, provavelmente como Leonor. Atrás da câmara, ela não interfere na vida daquelas pessoas mas também não lhes é estranha. Leonor conta-nos aquela história real, e entra na intimidade dos Lobo, e na introspecção de Albertino (o lobo do rio). Quase somos capazes de ler-lhe o pensamento.

Leonor Teles promete conquistar mais públicos e mais salas de cinema com a sua arte que, até agora, tem sido tão encantadora como desafiante.

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