terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Crítica: Cold War - Guerra Fria (2018)

*9/10*


É difícil expressar o que Pawel Pawlikowski consegue transmitir com Cold War. Tal como no filme anterior, Ida, o realizador polaco conta a História do pós-segunda guerra do seu país através de casos singulares escritos e filmados de forma exímia. Na simplicidade, reinam mais as acções que as palavras. Reina o amor e muita dor.

O preto e branco e ecrã quadrado (tal como em Ida) enquadram ainda melhor a acção no tempo - começa no final dos anos 40 e prolonga-se até a meados de 60 -, e condizem igualmente com o carácter fortemente etnográfico que Cold War demonstra.


Durante a Guerra Fria, Zula (Joanna Kulig) e Wiktor (Tomasz Kot), duas pessoas com diferentes experiências e temperamentos, apaixonam-se, entrando numa espiral de encontros e desencontros entre Polónia, Berlim, Jugoslávia e Paris. É a música que os une um ao outro e ao mundo que os rodeia. 

Pawel Pawlikowski inspira-se livremente na história dos pais - a quem dedica o filme - e cria uma obra muito envolvente, ao mesmo tempo que mostra a realidade da Polónia no pós-guerra, sem que isso seja o foco. A música dá vida a Cold War, conta histórias e coreografa tradições, apresenta um pouco do folclore do país numa espécie de retrato musical da época.


Do tradicional ao jazz, percorremos diversos géneros musicais ao acompanhar duas vidas de frustrações e desencantos. E muita dor, para Zula, Wiktor e para a plateia. É fortíssimo e indescritível o sentimento que Cold War passa para o outro lado do ecrã. A liberdade ocidental que Wiktor ambiciona entra em choque com a tranquilidade e simplicidade a que Zula está habituada, mas eles não são capazes de viver um sem o outro, nem um com o outro.

A Guerra Fria, suas fronteiras e ideologias políticas, criam e separam este amor impossível. E desgastam mais as personagens do que o sentimento, que se mantém inabalável anos a fio. É incrível observar como a personagem de Joanna Kulig envelhece, perdendo toda a inocência, jovialidade e audácia que a caracterizam inicialmente. A tristeza e desilusão tomam conta de si, tornando-a uma mulher magoada numa espiral decadente, contudo, para sempre apaixonada por Wiktor. Nele, a mudança parece menor, mas a sua personalidade introspectiva esconde melhor a infelicidade em que sobrevive. Apesar de tudo, ele não se cansa de lutar. Mas a adversidade persegue-os. Tudo por causa de uma escolha. Ou talvez tudo fosse igual se a decisão fosse outra.


Amores frustrados na difícil História de uma Europa dividida, filmada com a mestria de Pawlikowski, é a proposta de Cold War - Guerra Fria. Um filme contido mas capaz de arrebatar emoções, com a música como companheira de sessão. Esteticamente irrepreensível, apaixonadamente doloroso, porque o amor é assim.

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