domingo, 30 de dezembro de 2018

Crítica: Girl (2018)

*6.5/10*


Girl é a primeira longa-metragem do jovem realizador Lukas Dhont, e dá-nos uma lição bastante pedagógica, ao abordar a transexualidade na infância e adolescência. Uma visão cinematográfica menos comum desta realidade.

Lara é uma rapariga de 15 anos, nascida num corpo de rapaz, que sonha ser bailarina. O filme é inspirado na história real de Nora Monsecour.

Acompanhamos Lara e a sua família em todo o processo de preparação para a mudança de sexo, ao mesmo tempo que a jovem se depara com as dificuldades na escola de dança, onde tudo faz para alcançar o seu sonho. Percebemos que Lara já começou os tratamentos há algum tempo, que vem de uma família esclarecida e que a apoia, liderada por um pai extraordinário. A par das exigências na escola e dos tratamentos, Lara está em plena adolescência, e vê-se confrontada com os primeiros desejos e frustrações. Eis um dos pontos de maior interesse de Girl.


A temática da longa-metragem está longe de ser original, no entanto, sabe tratar os temas cliché (a reacção das colegas, a dificuldade em conviver com o corpo de rapaz, os primeiros amores...) com uma sensibilidade instrutiva. Leva o espectador a compreender os receios de Lara e a sua luta interior. Peca apenas ao criar uma protagonista demasiado introspectiva. Gostávamos de saber mais sobre o que a perturba, sobre as suas dúvidas e contrariedades, sobre tudo o que passa na sua cabeça. A certo momento, sentimo-nos tão desesperados e impotentes como o seu pai, por ela se fechar em copas.

Lukas Dhont destaca-se pela sensibilidade com que filma o corpo da protagonista e o seu conflito e desconforto por habitar o corpo errado. O espelho é a arma de confrontação da jovem com o seu aspecto, bem como o olhar dos que a rodeiam para a sua compleição, ainda pouco feminina. O ballet, por seu lado, é quase mais uma personagem, exigente e sempre presente, que a motiva, ainda mais, a ser mulher.


O jovem Victor Polster tem um desempenho fabuloso como Lara, nesta luta contínua dentro de si mesma. O actor, também bailarino, sabe tirar o melhor partido do seu aspecto andrógino ao criar a protagonista. Polster é feminino, doce e encarna este papel fisicamente exigente com muita garra e convicção.

Dhont conseguiu uma estreia marcante no cinema, com vários prémios e reconhecimento, mas em especial por criar um filme sobre identidade de género com um ponto de vista bem diferente do habitual. Girl ensina a sociedade a tudo fazer para restituir a dignidade e a identidade a estas pessoas. Lara é angustiada e infeliz, mas é, sem dúvida, uma mulher, que apenas nasceu no corpo errado.

Sem comentários: