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terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Crítica: Green Book - Um Guia para a Vida (2018)

"You never win with violence. You only win when you maintain your dignity."
Dr. Don Shirley


*7.5/10*

Peter Farrelly saiu da sua zona de conforto e trouxe para o grande ecrã a história de amizade entre dois homens muito diferentes, nos anos 60, que apresenta, em uníssono, o racismo vivido no sul dos Estados Unidos à época. Green Book - Um Guia para a Vida é um despretensioso retrato de como ainda muito há para fazer no mundo para que os preconceitos desapareçam.

É na simplicidade e, fundamentalmente, nos protagonistas que Green Book é uma aposta ganha. Um filme que não quer ser mais do que aquilo que é - passa uma mensagem séria e ainda actual, através do humor, com um guião bem escrito e tão bem interpretado. Mahershala Ali Viggo Mortensen formam uma dupla insuperável.


Green Book conta a história real de um famoso pianista negro, Dr. Don Shirley, que contrata um segurança italo-americano, Tony Lip, para o conduzir pelo Sul dos Estados Unidos, durante a sua tournée de espectáculos, nos anos 60.

A previsibilidade do argumento não desfaz o bom trabalho de Peter Farrelly que sabe jogar com alguns clichés (e se o são é porque ainda existem) com maturidade e dá provas de se entregar aos desafios. Nada de comédias românticas ou disparatadas, isso só com o mano, Bobby Farrelly. Peter, sozinho, leva tudo mais a sério.

Tony e Don desfazem preconceitos racistas, e debatem-se com dilemas e injustiças, que se vão tornando claras através do The Negro Motorist Green Book, um guia para viajantes negros terem uma viagem segura numa altura de segregação racial, em especial nos estados sulistas dos EUA. A revolta sente-se na plateia e no ecrã, onde aprendemos - mais uma vez - que a violência não é solução, mesmo quando os vilões possam estar "mesmo a pedi-las". Green Book ensina a tolerância.

Mahershala Ali faz um trabalho fenomenal na pele de Don Shirley, mais ainda sabendo que há poucos registos filmados do pianista. Mahershala agarra-se a todas as informações que obteve e constrói uma personagem culta, íntegra e solitária, com uma grande crise de identidade. Um homem  snobe, que engole o orgulho para ganhar a vida com o seu talento - aquilo que mais prazer lhe dá fazer -, enquanto se debate com uma realidade racista e inumana que lhe está tão longe, mas também tão perto.


Viggo Mortensen completa a dupla-maravilha, na pele de um italo-americano gabarola e um tanto grosseiro. Viggo engordou para fazer esta personagem, e a comida italiana parece ter sido a dieta ideal. O actor é tão boçal como sincero, numa pureza conspurcada mas ainda com alguma doçura ou inocência. Dos modos racistas iniciais, Tony vai aprendendo muito com Don - e igualmente ensinando -, e entre as diferenças surgem muitos pontos comuns. Tão diferentes e tão complementares.

Green Book é uma quase inacreditável história de paradoxos, numa viagem que vem quebrar todos os preconceitos e ensinar o respeito. Mais uma lição para os Estados Unidos - e para o Mundo. A prova de como ainda há muito a mudar e de que, se o que neste filme vemos são clichés, é porque estes ainda estão bem vivos nos dias actuais.

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