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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Crítica: Vice (2018)

"And he did it like a ghost."
Kurt


*8/10*

Eis o retrato de um homem que se movimentou nos bastidores da política norte-americana durante décadas. A ascensão aconteceu, a pouco e pouco, sempre com pouca exposição pública, mas muitos contactos em todos os locais que lhe interessavam. Vice é uma espécie de filme biográfico sem papas na língua que Adam McKay realizou sobre o vice-presidente mais influente na Casa Branca. O poder foi uma tentação para Dick Cheney e ele soube usá-lo sem que alguma vez se tornasse uma fraqueza. Ele era o cérebro de George W. Bush, o seu vice, e governava o país sem ter vencido nenhuma eleição.

Vice leva-nos num mergulho frontal e sarcástico - quase mórbido - no mundo impenetrável da política norte-americana, fazendo-nos conhecer o mentor do estado a que o país chegou. A influência de um homem quase invisível teve repercussões assustadoras. É em jeito de paródia (ou farsa) que Adam McKay nos confronta com uma realidade demasiado dolorosa para ser mentira.


Vice explora o percurso de Dick Cheney (Christian Bale), desde a época em que era um simples operário no Texas, até se tornar no homem mais poderoso do planeta, depois de, sob a orientação da sua leal mulher Lynne (Amy Adams), ascender ao cargo de Vice-Presidente dos EUA, redefinindo para sempre o país e o mundo.

Mas antes de conhecermos os feitos de Cheney na Casa Branca, conhecemos o seu passado de abusos e irresponsabilidade. Sempre ao seu lado esteve a sua mulher, Lynne Cheney, sem quem Dick nunca teria percorrido nem metade do caminho. No decorrer de Vice, ali está sempre a esposa dedicada e decidida.

A sátira é certeira nos pontos que aborda e no ritmo - sempre acelerado de McKay -, com a montagem a reforçar isso mesmo. O realizador não tem meias medidas - ou tudo ou nada, e com Christian Bale ao comando claro que só poderia ser "tudo". Depois de A Queda de Wall Street, a parceria entre actor e realizador parece ter vindo para ficar e Vice é a prova de como os dois trabalham bem juntos.


A caracterização faz um trabalho fenomenal ao transformar os actores em autênticos sósias dos visados: Christian Bale, Steve Carell e Sam Rockwell são cópias de Dick Cheney, Donald Rumsfeld e George W. Bush, respectivamente. Adicionalmente, o empenho dos três actores foi ao ponto de se aproximarem ainda mais das suas personagens, adoptando os seus tiques ou tom de voz, por exemplo.

Quem ganha por muitos votos na melhor interpretação é, sem dúvida, Bale, sempre camaleónico, e assustadoramente semelhante a Cheney em expressões, gestos e na voz e forma de falar. Rockwell é cómico ao construir um Bush irresponsável e pouco comprometido com a nação que serve. Já Carell, interpreta um arrogante e déspota Donald Rumsfeld, sarcástico e um autêntico professor do protagonista. A mulher por detrás dos homens, Lynne Cheney ou Amy Adams, é mais uma interpretação de peso, numa boa parceria - já bem conhecida de outros filmes - com Christian Bale.


Vice é uma boa forma de compreender, em jeito de comédia negra, a perversão e corrupção que imperam no centro das decisões dos EUA e do mundo. Um verdadeiro filme de terror.

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