sexta-feira, 12 de abril de 2019

Crítica: Correio de Droga / The Mule (2018)

"You're right. I thought it was more important to be somebody out there than the damn failure I was here at my own home."
Earl Stone



*7.5/10*

Clint Eastwood regressou cheio de força a protagonizar um filme realizado por si. Correio de Droga surge como uma purga, após alguns filmes apenas medianos nos últimos anos. Aos 88 anos, Eastwood dá-nos uma lição de cinema. E que bom que é ver a jovialidade deste histórico da Sétima Arte.

Correio de Droga é símbolo de redenção, quer na própria temática do filme, quer no significado da longa-metragem na filmografia do realizador. Também como actor, surge aqui um renascimento: Eastwood não interpretava uma personagem desde 2012.

Earl Stone (Clint Eastwood) é homem de 90 anos que se encontra falido e sozinho. Na sequência do processo de falência da sua empresa, propõem-lhe um trabalho que lhe exige simplesmente que conduza. Parece uma tarefa fácil, mas sem que se aperceba, Earl vê-se contratado por um cartel de droga mexicano. No entanto, este não é o único a vigiar Earl: o misterioso novo correio atraiu as atenções de Colin Bates (Bradley Cooper), um agente da DEA. E embora Earl deixe de ter problemas de dinheiro, os erros do passado começam a pesar-lhe e é duvidoso que ele tenha tempo de corrigir o mal que fez antes que as autoridades ou os agentes fiscalizadores do cartel lhe deitem a mão.


Um horticultor, veterano da guerra da Coreia, que sempre viveu para o trabalho, negligenciando a família vê-se, com o passar dos anos e o avançar da tecnologia (que afinal ainda lhe poderá ser muito útil...), falido. Ao tentar regressar para a família, não é bem recebido, com a culpa que se foi acumulando ao longos dos anos a pesar-lhe agora ainda mais nos ombros.

De repente, vê-se a trabalhar como correio de droga para um perigoso cartel. Os homens com quem tem de lidar são ameaçadores mas Earl depressa os conquista. Aos 90 anos, Earl tem a atitude de um jovem aventureiro e sem receios e só quando a morte parece rondá-lo é que há uma tomada de consciência fulcral para o seu destino e para a sua redenção. É que nem a polícia é capaz de pará-lo.

O patriotismo que normalmente caracteriza Eastwood cai um pouco por terra em Correio de Droga e a crítica politico-social, ainda que subtil, não está ausente. E, no meio do drama e da tensão crescente, conseguimos desfrutar de bons momentos de humor.


O arrependimento acaba por ser o motor que conduz todo o enredo de Correio de Droga, quase sempre inesperado e inacreditável. Ironicamente, o filme tem por base uma história verídica que o argumentista Nick Schenk, adaptou a partir de um artigo do The New York Times intitulado The Sinaloa Cartel's 90-Year-Old Drug Mule, escrito por Sam Dolnick. Os anos passam, mas Clint Eastwood continua a ser excelente a fazer-nos gostar das suas personagens moralmente repreensíveis - especialmente quando é ele que lhes veste a pele.

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