*7/10*
I Love You, Now Die: The Commonwealth Vs. Michelle Carter é o documentário, de dois episódios, da HBO que explora um caso flagrante de como o digital choca de frente com as lacunas da Lei actual, incapaz de acompanhar a velocidade da tecnologia. Ao mesmo tempo, apresenta um dilema moral tremendo sem tomar partido de nenhuma das partes envolvidas. Afinal, foi suicídio ou homicídio involuntário?
Realizado por Erin Lee Carr, I Love You, Now Die explora questões inquietantes de como comunicamos na era digital, ao mergulhar nos dilemas éticos do caso de Michelle Carter, acusada de coagir o namorado, Conrad Roy, a suicidar-se por mensagens de texto.
O filme acompanha o julgamento de Michelle, apresentando a acusação e a defesa, e analisa os milhares de mensagens de texto que o casal trocou ao longo de dois anos, bem como SMS de Michelle com outras pessoas, que ajudam mais facilmente a conhecê-los. Erin Lee Carr dá-nos muito material para, ao fim de 140 minutos, podermos fazer uma caracterização psicológica realista dos dois jovens.
Conhecemos o difícil historial clínico dos dois, ambos mentalmente instáveis, e outros traços das suas histórias. Violência doméstica, tentativas de suicídio, internamentos, Prozac, Glee, são muitos dos temas explorados e investigados pelos intervenientes no caso - destaque para o bom trabalho de investigação jornalística que aconteceu, a par da investigação policial.
I Love You, Now Die apresenta ainda depoimentos da família de Conrad, de jornalistas, psiquiatras, do advogado de Michelle, e até da população local. Contudo, e apesar da família de Michelle ter recusado prestar declarações para o documentário, este peca por essa ausência. Ainda assim, o advogado da jovem cumpre bem o seu papel enquanto defensor - quer em frente ao juiz ou em frente à câmara.
Ironicamente, é curioso ver como a opinião pública faz à arguida o mesmo pelo qual ela está a ser julgada. "Mata-te", dizem eles. Para isso também contribui a desinformação dos media, as fake news. Todos acusam e fazem os seus juízos de valor sem conhecer os pormenores do caso, alguns deles adulterados pelo passar de boca em boca, qual telefone estragado.
Muito assertivo em termos documentais e jornalísticos, I Love You, Now Die é isento, imparcial. Os juízos ficam para o tribunal e para o público que vê o documentário em casa. A única conclusão geral que tiramos é que Michelle e Conrad foram, sem dúvida, a ruína um do outro, e das suas famílias.
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