terça-feira, 1 de outubro de 2019

Crítica: Ad Astra (2019)

"Here we go again. Fighting for resources. What the hell am I doing here?"
Roy McBride


*7.5/10*

James Gray aventurou-se na ficção científica, depois de diversos bons títulos de menor orçamento, a balançar entre o crime e o drama. O realizador deu um salto para o espaço, mas o drama existencial e familiar continua subjacente, bem como as problemáticas do mundo actual, que se estendem pela galáxia.

Roy McBride (Brad Pitt) embarca numa missão através da galáxia para descobrir a verdade sobre o desaparecimento do pai (Tommy Lee Jones), ocorrido duas décadas antes, enquanto procurava sinais de vida alienígena. Após ter sido dado como morto, novas provas sugerem que o pai de Roy ainda pode estar vivo, refugiado numa central de produção de energia abandonada, num planeta distante - e que poderá representar um perigo para todo o universo.

Brad Pitt surge ao comando desta missão, num papel contido, qual astronauta real. Tranquilo, controlado, crédulo - até certo ponto -, segue os passos do pai como que para colmatar a sua ausência, desde a adolescência. É a partir da sua viagem - uma espécie de viagem no tempo, ao futuro e ao passado, entre as saudades e admiração pelo pai que conheceu, na expectativa do que encontrará se reencontrar o homem que pensava ter morrido e que, afinal, é tido como uma ameaça universal -, que surgem as principais temáticas de Ad Astra.


Tempo e solidão conjugam-se para uma auto-análise, para uma batalha com o tão elogiado auto-controlo. Troy confronta-se com toda a sua existência, quer no planeta Terra quer fora dele, e procura o seu lugar no mundo, até então muito focado no individualismo. Entram em cena as difíceis relações pessoais, a família, a ausência do pai, o sacrifício pela ciência ou pelo saber, a mentira... Afinal, qual a sua razão de viver?

A direcção de fotografia de Hoyte Van Hoytema faz um excelente trabalho ao transportar-nos para o espaço, com influencias visuais diversas ao longo do filme, sendo 2001 - Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick, uma das mais evidentes. A ambientar-nos à ausência de gravidade da viagem, está a banda sonora de Max Richter, respeitando silêncios e acompanhando-nos na solidão sideral.


Ad Astra é certeiro também no que respeita à crítica social/política/económica. James Gray mostra-nos bem como, enquanto houver território a ocupar, a humanidade irá prosseguir com velhos hábitos: guerra, experiências em animais, exploração de recursos... Resta-nos olhar para a ficção e tentar corrigir a realidade, enquanto há tempo.

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