Ainda na Competição Internacional do Doclisboa'19, assistimos à sessão de Spit on the Broom, de Madeleine Hunt-Ehrlich, e 中孚 61. The Inner Truth (中孚 61. La verdad interior), de Sofía Brito.
Spit on the Broom, de Madeleine Hunt-Ehrlich - 7/10
A realizadora norte-americana Madeleine Hunt-Ehrlich, trouxe ao festival uma curta-metragem cheia de ritmo e feminilidade. O filme aborda "a história da United Order of Tents, uma organização clandestina de mulheres negras surgida nos anos 1840, durante o apogeu do Underground Railroad (rede de rotas clandestinas e abrigos secretos existente nos Estados Unidos durante o século XIX, usada para a fuga de escravos afro-americanos para os estados do Norte ou para o Canadá). Por respeito ao sigilo permanente do grupo, o filme estrutura-se em torno de excertos do domínio público, artigos de jornal relacionados com a Tents ao longo de 100 anos e uma trama visual de fábula e mito como forma de apresentar uma história que permanece secreta."
Spit on the Broom tem uma magia latente, delicada, quase com ambiente de encantar, onde são as mulheres as protagonistas - e nem poderia deixar de ser assim. Os olhos percorrem e dançam com as imagens, através da câmara flexível e curiosa, e a natureza entra em cena como mais uma personagem, naquele espaço de liberdade. Numa época como a actual, trabalhos de elogio às mulheres negras norte-americanas e à sua História são de elogiar.
中孚 61. The Inner Truth (中孚 61. La verdad interior), de Sofía Brito - 7/10
Sofía Brito e James Benning aprendem muito um com outro em 中孚 61. La verdad interior, mas também nos ensinam. Num mundo onde a comunicação oral parece ser cada vez mais escassa, em que a tecnologia domina muito mais as relações do que as conversas e a partilha, os dois realizadores unem-se numa dupla aventura. O resultado é não apenas o filme de Sofía, como também Telemundo (exibido na secção Riscos), de Benning.
中孚 61. La Verdad Interior revela o processo de criação de Telemundo, o filme colaborativo realizado por Benning e protagonizado por ele e Sofía Brito. Assistimos ao evoluir de uma relação muito além da língua materna. James Benning não fala espanhol, Sofía Brito fala pouco inglês. Todavia, os dois entendem-se maravilhosamente.
Os pensamentos de ambos parecem estar em sincronia. Eis que a língua não é um obstáculo assim tão grande às relações. As ideias do veterano na casa dos 70 são semelhantes às da actriz de 30 e poucos e não são precisas muitas palavras para o compreender. 中孚 61. La Verdad Interior tem muito de road movie, mas é também o nascer de uma grande amizade. Ela faz-lhe perguntas difíceis a que ele responde surpreendido. Ele mostra-lhe locais de rara beleza. E nós, do outro lado do ecrã, assistimos embevecidos ao nascer de uma amizade inicialmente pouco provável.
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