*8/10*
O universo expressionista de Pedro Costa revela-se no seu esplendor visual em Vitalina Varela, que segue a linha dos últimos filmes do cineasta, desta vez focado apenas na personagem que dá título à longa-metragem.
Depois de surgir em Cavalo Dinheiro, Vitalina conquistou Pedro Costa e o Festival de Cinema de Locarno - onde venceu o prémio de Melhor Actriz e o Leopardo de Ouro para Melhor Filme. Dando continuidade a algumas ideias desenvolvidas no "capítulo" anterior, o filme aborda o luto, mas tendo como principal foco a onda de imigração de cabo-verdianos que vieram para Portugal trabalhar nos anos 70.
Vitalina Varela, cabo-verdiana, 55 anos, chega a Portugal três dias depois do funeral do marido. Há mais de 25 anos que Vitalina esperava o seu bilhete de avião.
Assim que pisa solo português, os seus pares alertam-na para que regresse a casa, pois Portugal nada tem para si. O tom desditoso e desconsolado do filme de Pedro Costa está desde aí lançado. No entanto, Vitalina resiste e insiste. Para além de prestar contas com o fantasma do homem que a abandonou e com memórias de tempos felizes, parece haver nela uma réstia de esperança que a faz avançar.
Assim que pisa solo português, os seus pares alertam-na para que regresse a casa, pois Portugal nada tem para si. O tom desditoso e desconsolado do filme de Pedro Costa está desde aí lançado. No entanto, Vitalina resiste e insiste. Para além de prestar contas com o fantasma do homem que a abandonou e com memórias de tempos felizes, parece haver nela uma réstia de esperança que a faz avançar.
A mágoa espelhada no seu rosto contagia-nos. A protagonista, que se desempenha a si mesma, conta-nos a sua história - com q.b. de ficção à mistura - com coragem e sem fraquejar. E que interpretação! De olhos bem abertos, lúcidos e quase desafiantes, Vitalina encara desconfiada quem a vem visitar ou dar condolências. Ao mesmo tempo, comove-se com um jovem casal que conhece e desafia um padre solitário - que nos é bem familiar.
O sofrimento surge em cada pedaço de pele de Vitalina e no olhar vazio, mas cheio de recordações. Um olhar que se assemelha ao de Ventura, que surge novamente neste filme de Pedro Costa, ele mesmo é agora o padre desencantado e só, que se cruza no caminho da protagonista. A partilha entre as duas personagens guarda alguns dos momentos mais ricos da longa-metragem.
Mas é visualmente que Vitalina Varela se distingue verdadeiramente. As ruas labirínticas e as casas, que aparentam formatos irregulares, são filmadas de modo a que pareçam quase desproporcionais, num ângulo incómodo, com a luz a assumir o papel principal na nossa percepção (mais do que em filmes anteriores do realizador). Vitalina Varela é todo ele noite e opressão, mesmo quando acontece de dia. É todo luto, mas com rasgos de sonho e esperança. A iluminação do que realmente interessa destacar é o foco para a vida que cada um encerra em si e tem de continuar.
Vitalina Varela está longe de ser um filme fácil. Mas envolve como poucos e liga-se a nós com as forças que movem a protagonista, por vários dias, sem cessar, num alerta para muitas das questões que parecem tão longe, mas estão tão perto.
Vitalina Varela está longe de ser um filme fácil. Mas envolve como poucos e liga-se a nós com as forças que movem a protagonista, por vários dias, sem cessar, num alerta para muitas das questões que parecem tão longe, mas estão tão perto.
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