terça-feira, 10 de março de 2020

Crítica: O Homem Invisível / The Invisible Man (2020)

"He said that wherever I went, he would find me, walk right up to me, and I wouldn't be able to see him."
Cecilia Kass


*7.5/10*

A versão de O Homem Invisível criada por Leigh Whannell foge aos cânones mais tradicionais da história de H.G. Wells, mas é certeiro ao adaptá-la à actualidade. É um filme cheio de women power, que encaixa bem no movimento #MeToo.

O realizador reforça o seu lugar no cinema de terror actual, usando novamente a ficção científica como motor da acção e do suspense - lembremo-nos de Upgrade, que vimos no MOTELx'18. O terror é especialmente psicológico, com a personagem de Elisabeth Moss a ser a peça-chave que nos transmite medo e compaixão. Afinal, é a plateia a sua única testemunha silenciosa.

Presa a uma relação violenta e controladora com um rico e brilhante cientista, Cecilia Kass (Elisabeth Moss) foge na calada da noite e esconde-se, com a ajuda da irmã (Harriet Dyer), do amigo de infância (Aldis Hodge) e da sua filha adolescente (Storm Reid). Mas quando o abusivo ex-marido (Oliver Jackson-Cohen) comete suicídio e lhe deixa uma generosa parte da sua fortuna, Cecilia suspeita que a sua morte é apenas um embuste. Após uma série de coincidências estranhas e letais, que ameaçaram a vida daqueles que ama, e enquanto tenta provar que é perseguida por alguém que ninguém consegue ver, a sua sanidade é posta em causa.

O Homem Invisível revela-se um filme ritmado, com um bom trabalho de montagem e efeitos visuais, um argumento simples, mas reinventado de forma consistente, bem construído, sem pontas soltas e, acima de tudo, que toca em pontos fulcrais na sociedade actual, como a violência doméstica ou a tecnologia. A acompanhar, uma banda sonora intensa composta por Benjamin Wallfisch.

A ideia de que Cecilia está a ser constantemente vigiada leva-nos a uma paranóia semelhante à da protagonista, que seguimos, invisíveis, através da câmara de Leigh Whannell. Elisabeth Moss encarna com garra todos os momentos, desde a fuga silenciosa, ao pânico que a impede de sair de casa, à curta descontracção, para, de repente, todas as emoções se cruzarem: terror, coragem, loucura e superação. Saída de uma relação abusiva, eis que a mulher que é tomada como demente ganha forças para continuar a lutar contra quem a maltrata. Gostamos de mulheres com esta força!


Por detrás do fato, O Homem Invisível revela-se uma boa surpresa, psicologicamente aterrorizante. O futuro parece prometedor para Leigh Whannell, que começa a marcar o seu perfil enquanto autor. Da nossa parte, vamos querer acompanhar.

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