sexta-feira, 10 de abril de 2020

Crítica: Djon África (2018)

*7/10*


Djon África marca a primeira incursão de Filipa Reis e João Miller Guerra na longa-metragem de ficção. Contudo, o tom documental sente-se desde logo na pele do protagonista, Miguel Moreira, rosto presente em outras duas curtas dos realizadores, Li Ké Terra (2010) e Fora da Vida (2015).

Agora, mais velho, Miguel assume o papel de um jovem imaturo, de 25 anos, que parte numa viagem de autodescoberta, sozinho, para um país que é seu, mas não conhece.

Em Djon África, acompanhamos a história de Miguel “Tibars” Moreira, filho de cabo-verdianos que nasceu e cresceu na periferia de Lisboa e que toda a vida foi criado pela avó. Miguel viaja até Cabo Verde para conhecer as suas raízes e encontrar o pai, que nunca conheceu.

A epifania dá-se após uma mulher o reconhecer na rua, por ser fisicamente muito parecido com o progenitor. Antes tão desinteressado pelo presente ou futuro, o jovem encontra um objectivo pelo qual lutar e é ali que empenha todos os seus esforços - e dinheiro.


Mas esta jornada em busca do pai que nunca conheceu é mais uma viagem de autodescoberta. Inicialmente muito social, conhecendo e convivendo com quem lhe aparece à frente, a sua forma de ver o mundo vai mudando, e o protagonista torna-se, cada vez mais, introspectivo. Portugal, onde sempre viveu, não lhe deu a nacionalidade, mas em Cabo Verde, país dos pais, todos o vêem como um estrangeiro. Eis que o confiante Miguel estremece e inquieta-se.

E após vaguear, alguns dias, entre a realidade e a alucinação, que acontece após beber alguns copos de grogue - a bebida cabo-verdiana tão apreciada no filme -, Djon África torna-se sóbrio e reflexivo, mesmo que a magia continue a espreitar.


Uma viagem interior tem início no barco que leva Miguel à ilha de São Nicolau. Entre a solidão das montanhas e dos animais, com uma companheira inesperada, Miguel torna-se adulto. É ali que se reencontra, ao mesmo tempo que os realizadores filmam os mais belos planos do filme, num cenário desértico, vulcânico e, ao mesmo tempo, cheio de esperança.

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