segunda-feira, 27 de abril de 2020

Crítica: Salve Satanás? / Hail Satan? (2019)

*7.5/10*


Penny Lane leva-nos numa aventura ao Templo Satânico, num documentário atrevido mas desmistificador, apresentando-se tão hilariante como desconstrutivo de alguns dos grandes problemas da sociedade norte-americana. Salve Satanás? é para assistir de mente aberta, sem preconceitos.

A primeira regra deve ser esquecer todas as ideias preconcebidas acerca do nome deste grupo religioso. Deixemos pois que eles se apresentem e que a realizadora seja a nossa curiosa guia, numa descoberta desafiante e provocatória.

Salve Satanás? narra a ascensão de um dos movimentos religiosos mais controversos da História dos Estados Unidos da América. Quando os membros d'O Templo Satânico organizam uma série de acções públicas destinadas a defender a liberdade religiosa e a desafiar a autoridade corrupta, provam que, com pouco mais do que uma ideia inteligente, um sentido de humor negro e alguns amigos rebeldes, se pode desafiar o poder de modo bastante profundo. O documentário de Penny Lane oferece uma visão sobre um grupo de excluídos, cujo compromisso inabalável pela justiça social e política deu força a milhares de pessoas pelo mundo.


É Lucien Greaves quem dá a cara pelo grupo, e são muitos os membros que contam para a câmara o porquê de se terem juntado ao Templo Satânico, mas também alguns dos fundadores, que permanecem no anonimato, dão declarações para o documentário. É através deles que conhecemos a História deste movimento religioso. É assim que eles se assumem, mesmo que não seja fácil entendê-lo dessa forma. O cariz interventivo do grupo é de tal forma importante na sua acção que o vemos muito mais ligado às questões sociais e políticas do que religiosas.

Os valores que defendem são substancialmente maiores do que os que os acusam e os ameaçam dizem ter. Eles querem justiça para todos, da mesma forma. Querem igualdade, liberdade e, se possível, fraternidade. Antes de mais, querem a separação entre a Igreja e o Estado. Algo que nos parece tão simples e óbvio, não se verifica nos Estados Unidos e o fervor religioso dos cristãos ultra-conservadores manifesta-se de formas pouco ortodoxas.


Entre manifestações, ameaças de morte, comícios com estátuas polémicas (entre Os 10 Mandamentos a Baphomet, "venha o diabo e escolha", permitam-me a expressão), vamos descobrindo os "podres" de um sistema que se acha o "melhor". E, ao longo da sua curta História como país, vemos como se condicionaram leis conforme interesses sociais ou religiosos, onde até a indústria do cinema e o filme Os 10 Mandamentos tiveram interferência.

Do lado dos satanistas, apenas podemos concluir que o seu activismo usa a ironia para tentar mudar o que está mal. Eles são os outsiders da sociedade, muitas vezes ostracizados por ela, que se unem por ideais partilhados, um pouco por todo o mundo.

Penny Lane mostra-nos como, afinal, parece que somos todos um pouco satanistas. Salve Satanás desmistifica, de forma surpreendente, todas as ideias falsas que se construíram em redor do Satanismo ao mesmo tempo que derruba injustiças e incoerências do sistema norte-americano. Esqueçam-se os preconceitos! Lute-se pela igualdade!

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