quarta-feira, 27 de maio de 2020

Crítica: Ema (2019)

*4.5/10*


Pablo Larraín apresenta-nos a sua mais recente longa-metragem, Ema, longe das temáticas que nos tem habituado, mas com o mesmo visual envolvente e demarcado. Ema está muito distante dos grandes filmes do realizador e é facilmente divisório: uns render-se-ão aos encantos da protagonista, outros irão aguardar pelo próximo filme, na esperança de dias melhores.

Ema (Mariana Di Girolamo) e Gastón (Gael García Bernal) são espíritos livres artísticos, num grupo de dança experimental, cujas vidas são lançadas para o caos quando o filho adoptivo, Polo (Cristián Suárez), se envolve num acidente muito violento. Com o casamento a desabar por causa da decisão de devolver o filho, Ema embarca numa odisseia de libertação e auto-descoberta, enquanto dança e seduz, a caminho de uma ousada nova vida. 


Ema é, sem dúvida, uma anti-heroína e não será fácil afeiçoarmo-nos a ela. Gosta da liberdade, é egoísta, pirómana, libertina, irresponsável e ama os que a rodeiam de forma pouco convencional... ou então ama-se apenas a si mesma. Certo é que todas as suas atitudes se baseiam na sua única e exclusiva vontade, usando o filho como desculpa. E se, por vezes, podemos considerar que a protagonista realmente ama o pequeno Polo, talvez porque se identifique com ele, depressa colocamos a dúvida novamente. Ema é descontrolada, desequilibrada e calculista, manipulando relações e as vidas de todos os que a rodeiam e com ela se envolvem.

Pode querer construir uma vida nova para si, mas é capaz de destruir muito mais do que criar. E, a certo momento, deixamos de nos chocar com qualquer dos inacreditáveis feitos de Ema, ela própria uma criação pouco verosímil.


De positivo, retiramos o visual do filme de Pablo Larraín, distinto, com cores vibrantes que acompanham o ritmo da música reggaeton e os corpos que dançam nas ruas ou balançam nas camas, lembrando, por vezes, videoclips musicais. Há um bom jogo de luzes e sombras, com o fogo a assumir um poderio enorme, filmado com potencial, já que é quase mais uma personagem.

Ema é o retrato de uma jovem inconformada, mas a plateia também não se conformará facilmente com a desilusão em que o realizador chileno se aventurou.

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