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terça-feira, 5 de maio de 2020

Crítica: Rainha de Copas / Dronningen / Queen of Hearts (2019)

"Sometimes what happens and what must never happen are the same thing."
Anne


*5/10*

May El-Toukhy traz-nos Rainha de Copas, um perverso e arriscado drama, que aborda família e sexualidade, com a frieza nórdica a comandar o visual e as emoções das personagens.

Anne (Trine Dyrholm) é uma advogada especializada em crianças e jovens adultos. Tem uma vida, aparentemente, perfeita, com o marido, Peter (Magnus Krepper), e as filhas gémeas de ambos. Contudo, quando o enteado Gustav (Gustav Lindh), filho do primeiro casamento de Peter, vai viver com eles, o desejo crescente de Anne leva-a a enveredar por um perigoso caminho que, a ser exposto, irá por em perigo o seu mundo.


A história da longa-metragem não será nova - talvez um pouco menos vista, sendo a vítima um rapaz e a abusadora uma mulher adulta -, nem especialmente emocionante. As fragilidades de uns tornam-se os trunfos de outros, e o poder - quer seja jurídico, social ou familiar - e a confiança detêm um papel fundamental no filme de May El- Toukhy, o que o torna ainda mais perverso e subversivo.

À partida, não há motivos que expliquem o súbito interesse de Anne pelo adolescente recém-chegado a sua casa. Os dois envolvem-se sem tabus, roçando as fronteiras da ilegalidade, e surge o curioso paradoxo da mulher que defende - supostamente tão afincadamente - crianças abusadas se tornar, ela própria, uma potencial criminosa.

Rainha de Copas não será um filme fácil de ver, nem de simpatizar, mas há que destacar o grande trabalho da actriz protagonista, Trine Dyrholm, num desempenho irreprimível e muito físico, de uma mulher fria, calculista, dissimulada, que anseia por manter as aparências e, parece-nos, estará em plena crise de meia idade.


Inicialmente pouco estimulante, com as cenas de sexo a assumirem mais protagonismo do que as emoções entre as personagens - elas mesmas demasiado autocontroladas -, o filme só começa a criar verdadeiras reacções na plateia na sua segunda metade, com a revolta e a impunidade a pontuar.

Rainha de Copas é um filme exibicionista, com cenas bem filmadas, mas pouco conteúdo, que pretende chocar, sem consequência, moral ou qualquer mensagem subliminar. Um vazio para bem das aparências.

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