terça-feira, 25 de agosto de 2020

IndieLisboa'20: State Funeral, de Sergei Loznitsa

*7.5/10* 


Presença já habitual no IndieLisboaSergei Loznitsa regressa nesta edição com State Funeral, na secção Silvestre. A partir de imagens e audio de arquivo, a maioria inéditos, assistimos, momento a momento e em vários locais da URSS, às cerimónias fúnebres de Josef Stalin.

Em Março de 1953, as notícias da morte de Stalin deixaram a União Soviética em choque. O realizador ucraniano mostra-nos os quatro dias da despedida, seguindo todos os procedimentos, desde o anúncio da morte, às enormes cerimónias, onde milhares de pessoas fazem questão de ver com os próprios olhos o líder no caixão vermelho, entre flores sem fim. Algumas das imagens são dignas de quadro - e não foram poucos os artistas que estiveram presentes a pintar e esculpir a última imagem de Stalin.


A preto e branco e a cores, as imagens apresentam-nos a sobriedade do momento - sempre com o vermelho a sobressair -, mas também um culto de personalidade entranhado na sociedade, que chora e sente esta morte como se de um familiar próximo se tratasse. O ritual que acompanha as cerimónias ainda nos é capaz de surpreender.

Loznitsa apresenta um trabalho minucioso e muito relevante, que reconta um momento histórico e mostra-o como nunca antes foi visto. Em State Funeral, acompanhamos o povo em diversas partes da URSS, vemos a chegada de representantes comunistas de vários países, ouvimos os discursos que enaltecem a imortalidade do líder, e assistimos a todo o ambiente de luto na Praça Vermelha.

Perto do final, uma sequência de imagens mostra como o mundo soviético parou para prestar uma última homenagem a Stalin. Os trabalhadores, em diversos locais, estão imóveis como numa fotografia.


Mas afinal, depressa se mudam as ideias e o culto da personalidade tido até ali caiu poucos anos depois, como nos informa o texto que antecede os créditos. Eis um documentário que traz a História para o Cinema, com esforço e rigor.

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