quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Crítica: Honeyland - A Terra do Mel (2019)

*8.5/10*


Honeyland - A Terra do Mel mostra-nos a harmonia entre a Natureza e o ser humano, através da relação de uma mulher apicultora e as suas abelhas, com uma consciência ecológica bem presente.

Os realizadores Tamara Kotevska e Ljubomir Stefanov passaram cerca de três anos a filmar a protagonista e a sua mãe, acompanhando todas as suas rotinas, e a chegada e partida dos novos vizinhos, na isolada aldeia de Bekirlijia, nas montanhas da Macedónia do Norte. Honeyland fez História nos Oscars ao ser o primeiro filme nomeado simultaneamente para Melhor Documentário e Melhor Filme Estrangeiro.


"Hatidze vive com a mãe doente nas montanhas da Macedónia e ganha a vida com a venda de mel que obtém usando antigas tradições de apicultura. Quando uma família indisciplinada se muda para a porta ao lado, o que no início parece um bálsamo para a solidão, rapidamente se transforma numa fonte de tensão. Eles também querem ser apicultores, mas desrespeitam por completo as boas práticas e os conselhos sábios de Hatidze."

A partir das muitas horas de filmagens, os realizadores são capazes de criar um filme com uma linha temporal que segue as estações do ano, e uma narrativa que poderia facilmente ser confundida com ficção. Mas não estamos perante uma fábula ou um conto de fadas, e, tal como na vida real, a ambição e o desrespeito pela Natureza vêm destruir o pequeno paraíso isolado de Hatidze. O que ganhou em companhia e animação, só lhe trouxe desolação, morte e desespero. E como depois dos recursos escassearem o ambicioso parte em busca de terras mais ricas, a paz volta a reinar, mas nada será como antes.


Longe da cidade, Hatidze e a mãe vivem num local isolado, sem electricidade ou comunicações, em condições pouco comuns para a época actual. A apicultora revela uma ingenuidade e bondade para com o seu semelhante pouco vista nos dias que correm, onde o egoísmo e o individualismo prevalecem. Longe do capitalismo desenfreado, os seus métodos ancestrais de trabalhar conferem uma qualidade superior ao seu mel.

Há uma comunhão plena com a Natureza. O respeito e a partilha comandam o trabalho colaborativo entre duas espécies. As abelhas produzem o mel, Hatidze retira metade para vender. Apenas e só metade, para respeitar o equilíbrio do ecossistema, sem enfurecer os insectos.

Há um carinho imenso entre mulher e animais - uma relação de autodependência -, que os realizadores tão bem captam com as suas lentes, tal como registam a incrível beleza das abelhas, os seus gestos, a sua rotina e pureza.


Honeyland é tão cruel como encantador, ao confrontar-nos com a ganância do Homem, o desrespeito pelo próximo e pelo meio ambiente, ao mesmo tempo que nos dá esperança para continuar a acreditar no bem, na afeição sincera e na entreajuda sem esperar nada em troca.

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