terça-feira, 22 de setembro de 2020

Crítica: Treino Periférico (2020), de Welket Bungué

*7/10*

Treino Periférico é um filme de Welket Bungué, que, em Agosto, fez parte da Selecção Oficial do 11.º KUGOMA Film Forum Mozambique, onde teve estreia mundial. A curta-metragem continua agora o seu percurso pelos festivais, seguindo-se exibições no Rio de Janeiro, Brasil.


Mais uma vez, o artista reflecte sobre a herança colonial e o seu papel na sociedade nos dias de hoje.

«Dois artistas saem para treinar, não cabem nos padrões do seu bairro, da sua cidade, nem da sua cultura impostora. "Acredito que a vossa descrição tão sensível me remete à capacidade que temos, de nos desenvolvermos para nos mantermos vivos nesse território que nos foi 'devolvido' pelos colonizadores...", palavras do personagem Raça (Bruno Huca) ditas a Coragem (Isabél Zuaa). Este é um filme feito na periferia da "grande Lisboa" e discursa poética e assertivamente sobre ocupação territorial, pós-colonialismo e desigualdade social ainda vigente na cultura portuguesa.»

Treino Periférico tem uma componente muito teatral e performativa, com uma presença assertiva dos actores Bruno Huca e Isabél Zuaa, numa dança entre as palavras e o corpo, nos arredores da grande cidade, em locais isolados no meio da agitação da capital - os aviões são uma constante.

Treina-se o corpo e a mente, com Raça a desafiar Coragem para uma reflexão profunda sobre o papel que devem assumir na sociedade portuguesa, e o lugar que, ainda hoje, lhes parece destinado, contra a sua vontade.

Treino Periférico termina a expressar, exteriorizar e assumir o lugar do corpo no espaço que o rodeia. Raça e Coragem reclamam o direito de pertença daqueles corpos àqueles espaços. O realizador faz-nos o mesmo desafio que Raça lança a Coragem: reflectir, sem preconceitos, e agir.

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