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terça-feira, 1 de setembro de 2020

IndieLisboa'20: Ana e Maurizio (2020), de Catarina Mourão

*7/10*


Em Ana e Maurizio, Catarina Mourão volta a trabalhar a memória familiar, desta vez junto da pintora Ana Marchand, seguindo toda a influência e semelhanças que a artista encontrou no tio Maurizio, que conheceu apenas através de um livro e dos seus escritos descobertos em arquivos. O filme faz parte da Competição Nacional do IndieLisboa 2020, e leva-nos numa viagem espiritual e cultural.

"A pintora Ana Marchand sempre se sentiu um tanto deslocada na sua família. Donde lhe viria o amor pela arte e pela viagem? Em jovem viu um livro de viagens escrito pelo seu tio, Maurizio Piscicelli, e finalmente compreendeu. Catarina Mourão (Pelas Sombras, A Toca do Lobo, O Mar Enrola na Areia) acompanha Ana na sua travessia familiar e espiritual. Quem foi Maurizio? Quem é Ana? O rosto de um, o do outro. A reencarnação são as várias vidas que vivemos."


Marchand reencontra-se neste seu tio, descobrindo a liberdade de ser quem é, mas também na espiritualidade que temos dentro de nós e que nunca é tarde para encontrar e abraçar. Catarina Mourão filma o processo de reencontro interior mas igualmente com a personagem do seu passado que nunca conheceu, que parece ser a sua cópia perfeita. O fascínio que Maurizio desencadeou na pequena Ana renasceu na vida adulta e levou-a a seguir os passos do tio até Benares, na Índia, onde se deu a "iluminação". 

"Eu sou uma reencarnação dele, isso não tenho dúvida. Todos nós somos uma reencarnação dos nossos antepassados.", conclui Ana Marchand, a certo momento. Desde cedo, no documentário, usa-se a palavra reencarnação e a caminhada até ao poderoso final de Ana e Maurizio explica-nos essa forma de viver, com a aproximação ao budismo a ganhar força com o amadurecimento da artista.


Catarina Mourão volta a enaltecer a importância do arquivo, ele próprio a memória que perdura e não deixa o seu autor morrer. Dos registos escritos e fotografados deixados pelo tio de Ana, consegue-se acompanhar as viagens que fez, as suas experiências e reflexão sobre as culturas que conheceu, tão diferentes da sua. Ana e Maurizio é memória e reencontro, através dos tempos e a partir dos objectos que sobreviveram.

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