*7/10*
Em Fantasmas do Império, a realizadora Ariel de Bigault convida-nos a confrontar-nos com o passado colonial registado na Sétima Arte. Fez parte das secção Director's Cut do IndieLisboa 2020, e dá-nos uma visão muito abrangente de um passado que cada um contou à sua maneira - fosse por experiência no terreno, por pura manipulação propagandística ou por verdadeira curiosidade em reconstruir uma realidade que muitos receiam contar.
«O trabalho de Ariel de Bigault tem estado ligado às rotas da lusofonia. Em Fantasmas do Império somos guiados pelo actor são-tomense Ângelo Torres através do cinema português que explorou o nosso passado colonial. Vários realizadores como Fernando Matos Silva, João Botelho ou Margarida Cardoso ajudam a compreender o imperialismo, o colonialismo, a propaganda vista através desse “álbum de família” que é o imaginário colectivo cinematográfico português.»
Ângelo Torres é o guia que nos conduz pelo passado, em conversas enriquecedoras com quem filmou ou estudou esta herança que o cinema registou em película. Debatem-se ideias e analisam-se os filmes do regime, tentando encontrar os Fantasmas do Império que dão título ao documentário, e se escondem nas mentes e nas imagens. As gerações de realizadores sucedem-se no ecrã, e a análise toma diferentes pontos de vista.
Ângelo Torres, João Botelho, Margarida Cardoso, Ivo M. Ferreira, José Manuel Costa, Fernando Matos Silva, Hugo Vieira da Silva, Orlando Sérgio, Manuel Faria de Almeida, Joaquim Lopes Barbosa, Maria do Carmo Piçarra, bem como os excertos dos inúmeros filmes que são mostrados, dão-nos um conjunto de testemunhos e interpretações valiosas para melhor compreender e fazer a leitura cinematográfica deste passado comum ao país colonizador e aos países colonizados.
A opção de, a certo momento do filme, deixarmos de ter o nosso guia no ecrã, marca o momento em que Fantasmas do Império perde o seu fio condutor e divaga, com destinos confusos - onde Macau surge a propósito do trabalho de Ivo M. Ferreira, mas totalmente desenquadrado do objectivo do documentário.
Todavia, no seu conjunto, o documentário de Ariel de Bigault constitui um importante registo e análise daquilo que foi o colonialismo e no impacto que isso tem tido até à actualidade: os traumas de guerra de que ninguém quer falar, os filmes-propaganda do Estado Novo e o redescobrimento dos fantasmas do colonialismo que, mais recentemente, o cinema nacional tem enfrentado sem receios e com muita vontade de compreender e desmistificar.
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