quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Crítica: Quatro Contos, de Gabriel Abrantes (2020)

*7/10*

Quatro Contos é o conjunto de quatro curtas-metragens de Gabriel Abrantes, espelho da originalidade e imaginação do jovem realizador. Em jeito de histórias de encantar, o humor surreal de Abrantes paira em todos os capítulos desta sessão, percorrendo várias cidades pelo mundo, tal como os filmes têm estreado e conquistado prémios em festivais de vários continentes.

Freud Und Friends (2015) abre as hostes, com o humor nonsense ao comando. "Com a ajuda dos mais consagrados neurocientistas, 'Herner Werzog' viaja ao interior do cérebro de artistas e cineastas de todo o mundo e documenta os seus sonhos. Em Lisboa, o jovem realizador Gabriel Abrantes será a vítima desta experiência." Sonhos, traições e um tamboril com Alzheimer, com interlúdios de originais campanhas publicitárias, são as sugestões hilariantes de Gabriel Abrantes - ele próprio é protagonista nesta curta-metragem.

Uma Breve História de Princesa X (2016) dá seguimento a Quatro Contos e ao humor tão característico do realizador. Neste caso, a história é simples e vai directa ao assunto: "Um retrato delirante da escultura Princess X de Constantin Brancusi, uma controversa escultura em bronze, que começou como um busto da igualmente controversa sobrinha bisneta do Napoleão, a Marie Bonaparte." Inspirando-se na famosa obra de arte e na sua História, eis mais um inesperado conto.

Os Humores Artificiais (2016) leva-nos para um capítulo mais enquadrado nos contos de fadas - à moda de Abrantes, claro. Este segmento "segue o robô Andy Coughman na sua odisseia à procura do humor e do amor". De assinalar, desde logo, é a junção de ficção científica, tecnologia e uma tribo indígena brasileira no mesmo ambiente. Os Humores Artificiais "foi rodado no Mato Grosso (Canarana e nas aldeias Yawalapiti e Kamayura dentro do Parque Indígena do Xingu) e em São Paulo".

Gabriel Abrantes cria um romance entre uma máquina e uma índia, com as emoções, as memórias e a artificialidade da inteligência em xeque. 

Seguimos na onda do encantamento para As Extraordinárias Desventuras da Menina de Pedra (2018). "Cansada de ser um ornamento arquitectónico banal, uma escultura foge do Louvre para se confrontar com a vida real das ruas de Paris."

A partir da ideia de que à noite as estátuas ganham vida, esta menina de pedra, que diariamente quase passa despercebida nas visitas ao museu, confronta-se com a liberdade da movimentada noite de Paris, e conhece até mesmo a violência policial.

Quatro Contos é um crescendo de imaginação, com a arte e as emoções mais inusitadas a singrar, numa união natural, que bem retrata as principais marcas do seu autor.

Sem comentários: