*9/10*
Em A Nossa Terra, o Nosso Altar, André Guiomar entra no quotidiano e na intimidade das famílias do bairro do Aleixo (entretanto demolido), no Porto, ao longo de vários anos, seguindo a tensão e as mudanças impostas a uma comunidade unida por laços tão fortes como os de sangue. A longa-metragem foi exibida no Doclisboa'20.
"O filme testemunha as últimas rotinas no quotidiano do bairro social do Aleixo, marcadas pela tensão de um destino forçado. Entre a queda da primeira e da última torre, o processo de demolição arrasta-se durante anos, deixando as vidas dos moradores em suspenso. Obrigados a aceitar o fim da sua comunidade, assistem de forma impotente à lenta desfiguração do seu passado."
A Nossa Terra, o Nosso Altar divide-se em duas partes distintas: uma primeira fase, de alegria e comunhão, onde já se sentem as mudanças na vizinhança que, contrariada, vai deixando os apartamentos empedrados e partindo para outros bairros; e uma segunda parte, um reencontro com as mesmas pessoas, seis anos depois, em que predomina a melancolia, tristeza, num misto de emoções.
André Guimar constrói um documentário com uma autenticidade única, sabe mover-se entre os habitantes do Aleixo como se a câmara fosse invisível, filma a rotina, as festas, almoços, a entreajuda, as brincadeiras, mas também o desgosto, a união e solidariedade.
A Nossa Terra, o Nosso Altar é símbolo de pertença, de resistência e de comunidade, como já pouco se encontra nas grandes cidades. A plateia, por sua vez, quererá abraçar todas estas pessoas, num conforto necessário e numa revolta partilhada. Este filme faz a justiça possível e regista para sempre a realidade que as máquinas apagaram. As memórias essas não desaparecem.
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