segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Crítica: Sound of Metal (2019)

*8.5/10*

Sound of Metal, de Darius Marder, leva-nos numa experiência sensorial ao universo da surdez. Da música ao silêncio, do desespero à esperança, Riz Ahmed lidera uma violenta jornada de adaptação e superação.

"O baterista Ruben começa a perder a audição. Quando um médico o informa do seu estado, ele julga ser o fim da sua carreira e da sua vida. A namorada Lou interna o ex-toxicodependente numa casa para surdos, na esperança de evitar uma recaída e de o ajudar a adaptar-se à sua nova vida. Após ser aceite tal como é, Ruben tem de escolher entre o seu novo normal e a vida que, em tempos, conheceu."

Darius Marder aliou-se a Derek Cianfrance, com quem trabalhou no argumento de Como um Trovão (The Place Beyond the Pines), de 2012, e mantém o estilo sóbrio, mas de emoções intensas. Uma história crua, sem embelezamentos narrativos, Sound of Metal mostra o drama real que é confrontar-se com a repentina perda de audição aos trinta e poucos anos. Ao choque inevitável, junta-se ainda o facto do protagonista ser baterista de uma banda, e a música ser a sua vida e o seu sustento.

Para além da relação com a namorada - e vocalista da banda -, que sofre uma reviravolta com esta nova condição de Ruben, o principal foco da longa-metragem é a auto-aceitação do músico, que precisa aprender a viver com a surdez, comunicar-se por língua gestual e encontrar novamente o gosto pela vida, esforçando-se ao máximo para não voltar a consumir estupefacientes, numa enorme batalha interior.

Entre um elenco que conta com muitos actores amadores surdos, Riz Ahmed passa com distinção. O actor aprendeu a tocar bateria, língua gestual, e supera-se na pele de Ruben. O desnorte que sente; a vergonha inicial em revelar o seu problema à companheira; a esperança numa operação cara mas aparentemente milagrosa; a insistência em continuar a tocar, mesmo sem conseguir ouvir; e todas as mudanças no seu comportamento depois de integrar a comunidade de surdos - reencontrando uma alegria que pensava perdida -; são vividas com a intensidade do som e do silêncio nos ouvidos do actor. 

É no soberbo trabalho de som que recai a maior singularidade de Sound of Metal. Os efeitos sonoros são criados para simular que também a plateia consiga sentir os ruídos e o processo de perda de audição que o protagonista sente. Por vezes, apenas reina o silêncio, enquanto outras somos observadores externos, e ouvimos tudo o que Ruben não é capaz. A certo momento, habituamo-nos à ausência de som e qualquer barulho será interpretado como excessivo e perturbador. A experiência que os técnicos de som criam no filme de Darius Marder é realmente atordoante.

A violenta viagem que o realizador nos propõe é um confronto de emoções, ruídos e silêncio absoluto, numa aprendizagem permanente e restruturação pessoal total para voltar a viver. E mesmo sem ouvir, a música pode continuar presente - tal como a esperança.

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