sexta-feira, 21 de maio de 2021

Crítica: Prazer, Camaradas! (2019)

*7/10*

José Filipe Costa regressa aos tempos pós-Revolução dos Cravos e leva-nos à vida nas cooperativas, onde muitos estrangeiros vieram ajudar no trabalho e na educação. Prazer, Camaradas! revela-se uma docuficção arrojada em que o Passado vem visitar o Presente, concluindo que não terá mudado assim tanta coisa desde 1975.

"1975 – pós-revolução 25 de Abril. Eduarda, João e Mick viajam da Europa do Norte para trabalharem nas cooperativas das herdades ocupadas em Portugal. Como muitos outros, ajudam nas actividades rurais e pecuárias, dão consultas médicas, aulas de planeamento familiar, mostram filmes de educação sexual e participam nos bailes tradicionais. Vêm fazer a revolução sexual, abalando as velhas certezas de quem viveu tanto tempo em ditadura: como convivem homens e mulheres nas aldeias do Ribatejo? Por que é que as mulheres têm de ir virgens para o casamento? Por que é que só os homens têm direito ao prazer sexual?"

Nesta viagem que cruza duas eras distintas, realizador e elenco exploram conversas, acicatam debates, dão asas à imaginação e aos sonhos, com uma ingenuidade sarcástica e encantadora. A ironia perdura em toda a narrativa: a chegada dos "jovens idosos", de regresso ao país depois de muitos anos fora; junto dos tanques da roupa, as conversas sinceras e descontraídas sobre sexo que denunciam um passado ainda demasiado vigente; os óbvios paradoxos entre estrangeiros e portugueses e o choque de mentalidades - apesar de extrema admiração que nutrem pelas mulheres nacionais; os bailes populares e os pares que devem dançar com a devida distância; ou a modernidade dos tempos actuais que se imiscuiu no quotidiano da cooperativa.

José Filipe Costa confronta-nos com temas ainda tão discutidos: da sexualidade, à igualdade de género, do feminismo ao planeamento familiar. O realizador cria um jogo satírico entre personagens e plateia, que alia a realidade e a ficção em jeito de provocação e de consciência história e social.

Prazer, Camaradas! transborda a alegria e à-vontade do elenco, espíritos jovens em corpos envelhecidos, e contagia-nos com a leveza de quem sabe rir-se de si próprio.

Sem comentários: