quinta-feira, 3 de junho de 2021

Crítica: Quo Vadis, Aida? (2020)

*7/10*

Em Quo Vadis, Aida?, a realizadora Jasmila Zbanic recupera, 25 anos depois, o Massacre de Srebrenica, durante a Guerra da Bósnia, que matou cerca de 8000 homens e rapazes bósnios de origem muçulmana. 

Se, por um lado, o filme é o drama de uma tradutora da ONU que quer salvar a sua família, por outro, é uma crítica feroz aos responsáveis pelo genocídio, bem como à incapacidade das Nações Unidas de evitar tamanha tragédia.

Aida é mediadora naquela torre de babel improvisada. São poucos os que falam as duas línguas e a correria constante da protagonista faz-nos conhecer todos os cantos às instalações que acolhem alguns dos refugiados que fogem da violência - mas são muitos mais os que ficam ao portão. Tomada pelo desespero de salvar marido e filhos e colocá-los junto dela na aparente segurança da ONU, Aida faz o que pode para ajudar à comunicação entre militares e refugiados, traduzindo ordens e perguntas, com as quais muitas vezes não concorda.

A protagonista está rodeada de dilemas, pessoal e profissionalmente, e testemunha de perto os horrores e injustiças que se passam em seu redor. Aida personifica a nossa ira perante a impassividade das Nações Unidas e da comunidade internacional, incapazes de controlar a situação e com pouca vontade de ajudar os capacetes azuis no terreno. A facilidade e frieza com que o General Ratko Mladic controla a situação e define os termos do acordo que condenou milhares de bósnios à morte é revoltante. A zona "segura" da ONU revelou-se fatal para o destino trágico de milhares de refugiados.

Jasmila Zbanic cria um ambiente tenso e inquietante, sem violência gráfica. A realizadora joga com as emoções e provoca a indignação da plateia sem mostrar as atrocidades - tudo está presente a um nível mais profundo e subentendido.

Quo Vadis, Ainda? carrega uma revolta implícita e um apelo à união, contra guerras e genocídios.

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