*7.5/10*
São apenas seis episódios, que se vêem de rajada e nos fazem implorar por mais. Miri é a nossa guia numa jornada de reintegração na sociedade, após cumprir pena de prisão. O impacto das mudanças, o preconceito e todas as dificuldades inerentes a este "regresso à vida" são abordadas com muito humor em Back to Life, série criada e protagonizada por Daisy Haggard.
"Miri tem 37 anos, passou os últimos 18 na prisão por um crime terrível. Sem amigos ou trabalho só se pode fazer uma coisa: ir viver com os pais outra vez."
Se a reinserção já é difícil, quando se pensa no regresso a uma pequena vila inglesa, como acontece a Miri, onde todos a conhecem e sabem o crime que cometeu, tudo se torna ainda mais complicado. Para além dos pais - com quem a relação também não é fácil -, Miri começa do zero, e até arranjar emprego se revela uma tarefa hercúlea.
Apesar do ódio latente que paira sobre a protagonista e das dificuldades, o dia-a-dia na vila não tem falta de emoção: há um detective obcecado, uma directora de escola traumatizada, a sexualidade na terceira idade, um ex-namorado imaturo, uma nova loja 'fish & ships' e um novo vizinho simpático. Não faltam situações caricatas, recheadas do requintado humor britânico e um sentimento de nostalgia que passa para o outro lado do ecrã.
As mudanças tecnológicas evidenciam os contrastes dos 18 anos em que viveu encarcerada. O regresso ao seu quarto - ele próprio uma viagem no tempo -, estagnado no início dos anos 2000, tem um impacto que vai dos posters de artistas desaparecidos, ao walkman, discman, cassetes e até mesmo um tamagotchi. O analógico paira no quarto de Miri como um fantasma do passado que, para ela, ainda é Presente.
Há algo de extremamente delicado e sensível em Back to Life, e Daisy Haggard é a principal responsável por isso, quer pela história tão simples, divertida e igualmente impactante que criou; como, principalmente, pela pureza e jovialidade da protagonista, perdida no limbo entre o final da adolescência e a aproximação dos 40 anos, as experiências que ficaram por viver, a culpa que carrega e as perguntas que nunca tiveram resposta. Um crime colocou-lhe a vida em suspenso durante quase 20 anos; agora, a comunidade não lhe dá a oportunidade de voltar a viver.
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