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domingo, 25 de julho de 2021

Curtas Vila do Conde 2021: Competição Nacional em análise (Parte IV)

Para finalizar a análise à Competição Nacional do Curtas Vila do Conde, escrevemos sobre Sortes, de Mónica Martins Nunes, Oso, de Bruno Lourenço, e Terceiro Turno, de Mário Macedo. Apenas não tivemos possibilidade de assistir a Madrugada, de Leonor Noivo.


SORTES, Mónica Martins Nunes · Portugal/Alemanha · 2021 · DOC · 39’

"Velhos montes vão caindo vagarosamente sobre a terra. A mesma terra da qual um dia foram erguidos. E sem protesto, voltam a ser só chão, como se não tivessem abrigado gerações de gente lavrando, semeando, ceifando, amassando e comendo o fruto do duro trabalho. Fingindo não ter escutado as estórias, modas, décimas e outras poesias; e testemunhado a seca, o abandono, a fuga para a cidade. Sortes acompanha a vida dos restantes habitantes e seus animais, espalhados pela Serra de Serpa no Baixo Alentejo. Ao ritmo do trabalho do campo e pela voz dos poetas populares, torna-se retrato dos que ficaram e réquiem aos que foram."

Mónica Martins Nunes leva-nos pelas belas paisagens do Baixo Alentejo, entre a poesia e o trabalho que resiste. Se, por um lado, Sortes destaca a tristeza que a desertificação do Alentejo causa aos seus habitantes e às paisagens; por outro, revela nos resistentes a alegria e o empenho em manter agricultura, pecuária ou indústria. 

A curta-metragem, dedicada ao avô da realizadora, capta bem todas as dinâmicas do campo. A extração de cortiça, a cozedura do pão, os animais a pastar, os trabalhos agrícolas, a venda ambulante, mas também os momentos de partilha, em festa, o cante alentejano e até as dinâmicas entre donos e animais domésticos. Sortes é sobre o passado e o presente, e um símbolo de amor à terra e às suas gentes.


OSO, Bruno Lourenço · Portugal · 2021 · FIC · 29’

"Um urso é avistado num lugar no noroeste transmontano. O animal traz um natural alvoroço, mas a sua existência parece ser posta em causa por alguns." 

Bruno Lourenço leva-nos numa "caça ao urso", por entre paisagens naturais e desabafos de uma jovem, numa localidade isolada em que os homens têm tendência a beber demais. Filmado em película, captando os acontecimentos cómicos com uma aura quase mágica, Oso é, acima de tudo, um filme divertido onde a chegada de um urso vem agitar os dias e as noites.


TERCEIRO TURNO, Mário Macedo · Portugal · 2021 · FIC · 19’

"Numa pequena vila do norte de Portugal, Agostinho sobrevive à prisão da sua rotina. Certo dia, sofre um estranho ataque à saída da fábrica onde trabalha no turno da noite. Sem conseguir explicar o motivo da sua condição, regressa a casa, à namorada, aos amigos. Suprimindo os seus sonhos e preocupações, Agostinho espera a noite e, com ela, mais um turno."

Mário Macedo traz para o ecrã o desapontamento de quem vive uma vida que não avança. A doença do protagonista parece fazê-lo tomar consciência da passividade dos seus dias, mas a única acção que toma é conduzir pelas estradas vazias a alta velocidade. Os dias passam e todos parecem fartos da rotina. Terceiro Turno é um exercício introspectivo, num ambiente soturno, onde a iluminação nocturna se destaca.

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