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terça-feira, 7 de setembro de 2021

Queer Lisboa 25 e Queer Porto 7 com programação completa

O Queer Lisboa 25 e o Queer Porto 7 anunciaram a programação completa. Querelle, de Rainer Werner Fassbinder, marcará a noite de abertura em Lisboa, e será The Watermelon Woman, de Cheryl Dunye, a encerrar.

Em 1997, a curta-metragem Un chant d’amour (1950), do novelista e dramaturgo francês, Jean Genet, abriu a primeira edição do então Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa. E é com uma homenagem a Genet que se inicia a 25.ª edição do Queer Lisboa, com Querelle, de Fassbinder, "filme póstumo que tem por base o Querelle de Brest, de Genet, e que nos transporta para um universo marcado pela violência e pelo erotismo".

O duo musical brasileiro Noporn estará presente na Noite de Encerramento para um pocket show exclusivo onde irão interpretar faixas dos filmes Beira Mar e Tinta Bruta


Júris e Competições

O júri da Competição de Longas-metragens é composto pela argumentista e realizadora Fátima Ribeiro, a performer e actriz Jenny Larrue e o actor Manuel Moreira. Entre os oito títulos que compõe, destaque para três estreias na realização: Madalena, primeira longa de Madiano Marcheti, que narra as histórias que rodeiam o desaparecimento de uma mulher trans; The Scary of Sixty-First, realizado e protagonizado por Dasha Nekrasova, que se inspira no caso de Jeffrey Epstein para criar um thriller psicológico cheio de ironia; e Garçon chiffon, de Nicolas Maury, que também protagoniza o retrato de um actor gay que atravessa uma crise existencial.

O júri da Competição de Documentários o júri é composto por Ana Aresta, presidente da ILGA Portugal, a jornalista e produtora da RTPManuela Silva Reis, e Miguel Ribeiro, codirector do DocLisboa. Entre as temáticas dos filmes a competir está a questão das migrações em Silent Voice, de Reka Valerik, onde um refugiado checheno perde a voz como consequência da violência psicológica do processo migratório, e em Miguel's War, de Eliane Raheb, que foca a história de vida de Miguel Jelelaty, libanês radicado em Espanha. Também de Espanha chega Sedimentos, de Adrián Silvestre, que convida a embarcar numa viagem com um grupo de seis mulheres trans. Ainda de destacar, La Fabrique du Consentement: Regards Lesbo-Queer, de Mathilde Capone, uma abordagem ao tema do consentimento. 

Miguel's War, de Eliane Raheb

O júri da Competição de Curtas-Metragens conta com realizador Ricardo Branco, pela actriz Cleo Diára, e pela jornalista e crítica de cinema Teresa Vieira. Entre os realizadores repetentes no festival encontram-se Yann Gonzalez, Marc Wagenaar e Cris Lyra. Há duas curtas portuguesas em competição: A Table for One, de Carlos Lobo, que subverte e inscreve novos significados na obra de Steven Spielberg; e Luz de Presença, de Diogo Costa Amarante. Outros títulos em destaque são Red Aninsri; or, Tiptoeing on the Still Trembling Berlin Wall, de Ratchapoom Boonbunchachoke, que conta uma história de espionagem protagonizada por uma mulher trans e trabalhadora sexual; Vagalumes, de Léo Bittencourt, que revela o lado nocturno de um conhecido parque do Rio de Janeiro; e The Fans, de Seva Galkin, uma observação sobre masculinidade e homossexualidade na Rússia contemporânea. Avaliada pelo mesmo júri, a Competição In My Shorts, dedicada a filmes de escolas de cinema europeias, conta com nove obras nesta edição.

O júri da Competição Queer Art é composto pelx artista e educadore transfeminista Dani D’Emilia, e pelo montador e programador Tomás Baltazar. Destaque para Acts of Love, de Isidore Bethel e Francis Leplay; Desaprender a Dormir, de Gustavo Vinagre; Passion, de Maja Borg; e Vaga Carne, de Grace Passô e Ricardo Alves Jr.


Queer Focus

No 25.º aniversário do Queer Lisboa e da Associação ILGA Portugal, surge uma parceria que resulta no Queer Focus deste ano: "um programa de filmes e debates, onde se procura localizar, dentro de objetos fílmicos, questões de especial relevância histórica, social e cultural para as comunidades LGBTQIA+". O documentário The City Was Ours. Radical Feminism in the Seventies, de Netty van Hoorn, recupera o movimento lésbico na Holanda e o seu lugar de destaque no feminismo holandês. À projecção do filme seguir-se-á uma conversa com Eduarda Ferreira e Daniela Bento. Do Brasil, chega Mães do Derick, de Dê Kelm, uma história de coparentalidade no seio de uma família não-monogâmica com identidades não-normativas. Cured, de Patrick Sammon e Bennett Singer, aborda a história das práticas preconceituosas da clínica e da psiquiatria, e será seguido de uma conversa com Zélia Figueiredo e Henrique Pereira. A violência dos processos migratórias em Instructions for Survival, de Yana Ugrekhelidze, será seguido de um debate com Margarita Sharapova e Sara Soares. Todo a la Vez: la Mirada de Paco y Manolo, de Alberto Fuguet, mostra-nos o olhar dos fotógrafos espanhóis criadores da revista Kink, que participarão numa conversa após a exibição do filme. 

Também em torno da sexualidade, e cumprindo a tradição das Hard Nights do festival, surge o documentário Raw! Uncut! Video!, de Ryan A. White e Alex Clausen, sobre a produtora de porno fetiche Palm Drive Video. Ainda Wojnarowicz: F**k You F*ggot F**ker, de Chris McKim, baseia-se nos arquivos do artista norte-americano e de pessoas que lhe são próximas.  Ao filme segue-se uma conversa com o realizador. 

O Queer Lisboa desafiou dois jovens performers a criarem cada um uma performance a partir do Un chant d’amour, que serão estreadas aqui no festival: Slot, de Eduardo Batata, explora a dimensão do toque, da privação e do corpo enclausurado, e A Mind Enclosed In Language Is In Prison, de Rafaela Jacinto, coloca bonecos de criança feitos de lã a fazerem "pulsar um imaginário silencioso cheio de fantasia e desejo".


Panorama e Gus Van Sant

A secção Panorama é composta por quatro filmes: Enfant Terrible, de Oskar Roehler, biopic teatral sobre a figura de FassbinderSaint-Narcisse, de Bruce LaBruce; Shiva Baby, de Emma Seligman, e P.S. Burn this Letter Please, de Michael Seligman e Jennifer Tiexiera.

As já anunciadas retrospetiva de Gus Van Sant e Carte Blanche sofreram alterações, "por motivos que se prendem com direitos do espólio de Andy Warhol": o clássico The Chelsea Girls, de Andy Warhol e Paul Morrissey, e Gerry, de Van Sant, substituem o documentário biográfico de Andy Warhol e o seu Batman Dracula, anteriormente divulgados. O restante programa mantém-se, bem como a conversa com o realizador na Cinemateca Portuguesa.


Queer Porto 7

A sessão de abertura do Queer Porto 7 fica a cargo de Socks on Fire, de Bo McGuire, uma carta de amor cinematográfica de um neto para uma avó, que tem como pano de fundo a luta por uma propriedade entre uma tia homofóbica e um tio drag queen. A Noite de Encerramento conta com Au coeur du bois, de Claus Drexel, passado no Bois de Boulogne.

A realizadora alemã, Monika Treut, marca presença no Porto para apresentar Genderation, um documentário que, passados mais de 30 anos, olha para os protagonistas do seu clássico Gendernauts, de 1986, (também incluído na programação desta edição) e que será seguido de uma masterclass com a realizadora. 

Genderation, Monika Treut

Tal como em Lisboa, o Queer Focus terá uma componente de debates após o visionamento dos filmes, trazendo para a Reitoria da Universidade do Porto The City Was Ours. Radical Feminism in the Seventies, seguido de conversa com Ana Luísa Amaral, poeta, professora jubilada, pioneira dos estudos feministas e dos estudos queer na FLUP; e Cured, juntando-se ao debate Jorge Gato, psicólogo clínico e docente da FPCEUP, e Mia de Seixas, representante da Rede Ex-Aequo Porto. Exibido numa sessão especial no Dia Internacional de Luta contra a Homofobia, Bifobia e Transfobia, chega-nos o documentário Famille tu me hais, de Gaël Morel, um retrato de um conjunto de jovens expulsos de casa devido à sua orientação sexual, e acolhidos pela associação Le Refuge. A sessão é seguida de uma conversa com Telmo Fernandes, sociólogo, representante da ILGA Portugal, e Paula Allen, psicóloga e diretora técnica do Centro Gis.

Competições

Na Competição Oficial, destaque para Tiempos de Deseo, de Raquel Marques, que acompanha a gravidez da ex-companheira; La mif, de Fred Baillif, uma incursão a uma casa de acolhimento de raparigas menores que expõe as feridas de um sistema de tutela no limite; e Deus tem AIDS, de Gustavo Vinagre e Fábio Leal, um mosaico de gestos, provocações e testemunhos de artistas soropositivos brasileiros. O júri desta competição será composto pela cineasta e programadora Amarante Abramovici, pelo encenador e programador da RTP, Daniel Gorjão, e pelx artista larose s. larose.

Há uma nova secção competitiva, em parceria com a Reitoria da Universidade do Porto, dedicada ao cinema queer português, o Prémio Casa Comum, onde estarão a concurso nove curtas-metragens. Destaque para Películas, de Tiago Resende, que faz a leitura de uma carta a Luís Miguel Nava, o poeta de Viseu, terra de onde é natural o realizador; O Berloque Vermelho, de André Murraças, que recupera um conto de António José da Silva Pinto; e O Teu Nome É, de Paulo Patrício, que nos lembra de Gisberta e da sua história. 


Durante toda a extensão do Queer Lisboa 25, e prolongando-se também para o Queer Porto 7, o público poderá aceder online ao programa Outros Sistemas, uma selecção composta por objectos "artísticos interativos cuja existência é possibilitada pelo digital, e que procura refletir sobre a emergência de novas narrativas que confrontam a expressão queer com as particularidades dos formatos digitais".

O Queer Lisboa 25 realiza-se de 17 a 25 de Setembro no Cinema São Jorge e na Cinemateca Portuguesa. O Queer Porto 7 acontece de 12 a 16 de Outubro, no Teatro Rivoli, na Reitoria da Universidade do Porto, na Faculdade de Belas Artes, no Maus Hábitos e na mala voadora. Mais informações em http://queerlisboa.pt/.

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