segunda-feira, 6 de setembro de 2021

IndieLisboa 2021: Competição Nacional em análise (Parte II)

Continuamos a análise a algumas das curtas-metragens da Competição Nacional do IndieLisboa. Passamos agora para The Shift, de Laura Carreira, Beco do Imaginário, de Romano Cassellis, e O Que Resta, de Daniel Soares.

The Shift, de Laura Carreira


"A princípio nada parece carregar Anna com preocupações ou pesos enquanto faz uma viagem curta, na companhia do cão. Mas o ambiente começa a mudar ao entrar no supermercado. Enquanto vê as prateleiras, os expositores, faz cálculos mentais. Até ao telefonema."

O crescendo de emoções de The Shift cola-nos ao ecrã para captar cada gesto, cada hesitação ou cada expressão da protagonista. A tranquilidade inicial, onde só existia a Natureza, Anna e o seu cão, transforma-se em tensão, logo após entrar no supermercado. Anna toca nos produtos, escolhe, remexe, arrepende-se, sente as texturas dos tecidos expostos e, ao chegar à caixa, um telefonema vem mudar tudo. 

Laura Carreira sabe construir o suspense e com uma câmara inquieta, tal como a protagonista, e liga-nos à acção, criando uma empatia imediata, mesmo que pouco saibamos sobre a vida de Anna e do seu cão.

Beco do Imaginário, de Romano Cassellis


"Fábio percorre as ruas da Mouraria com a tensão de alguém que tem de resolver um problema que não tem solução. Ao tentar saldar uma dívida com um cliente, vêm ao de cima sentimentos proibidos e oprimidos. E os problemas adensam-se."

Beco do Imaginário leva-nos pelas ruas da Mouraria (e não só, já que o plano inicial conquista desde logo a nossa atenção, bem debaixo da Ponte 25 de Abril, em Alcântara), num sobe e desce de escadas, corridas por ruas estreitas e becos sombrios. Filma-se o tradicional deste bairro lisboeta, enquadrando-o como cenário ideal para "aprendizes" de gangsters se moverem.

O realizador Romano Cassellis leva-nos ao mundos dos pequenos ilícitos, dívidas por pagar e sentimentos por assumir. A pressão sobre Fábio leva-o a fazer o que não quer, mas as escolhas são de quem as toma e as emoções não são para reprimir.

O Que Resta, de Daniel Soares


"Emílio já só tem um carneiro. Depois de uma primeira tentativa gorada de o vender, vê-se obrigado a partir em viagem, pelo interior de Portugal, para concretizar a venda do seu animal."

O desencanto e a despedida pairam no ambiente de O Que Resta, de Daniel SoaresEmílio e o seu último carneiro embarcam numa viagem por montes e vales, guiados pela réstia de esperança do protagonista. 

O ritmo lento da curta-metragem faz-nos apreciar as paisagens da Guarda e admirar a companhia inusitada do simpático carneiro no banco de trás, de cabeça à janela, tal qual um cão. Uma dupla inesperada, em busca de um destino com algum alento.

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