domingo, 3 de outubro de 2021

Crítica: Nocturno / Notturno (2020)

"Tell me what you saw."
Professora


*6/10*

Nocturno (Notturno), de Gianfranco Rosi, está longe de ser um filme fácil, a todos os níveis. Filma o horror da guerra sob o ponto de vista de quem a viveu na pele e cuja rotina se faz nas fronteiras entre o Iraque, Curdistão, Síria e Líbano.

O realizador filmou o documentário durante três anos nestas quatro regiões do Médio Oriente. Faz um retrato íntimo daqueles que vivem em zonas de constantes guerras civis, ditaduras sangrentas, invasões e interferências externas, dando voz às histórias que atravessam divisões geográficas, unidas pela violência e destruição, que parece não ter fim.


Gianfranco Rosi filma sem interferir, seja nas montanhas, junto das militares; nos territórios enlameados que rodeiam os campos de refugiados; no meio da trovoada, em casa ou à beira da estrada, junto do jovem aprendiz de caçador; o homem que canta pelas ruas; na escola, onde crianças explicam os seus desenhos e o seu passado traumático (o momento mais intenso e desolador de Nocturno); na prisão, onde se filma a desumanização; ou no hospital psiquiátrico, onde a preparação para uma peça de teatro resume bem as imagens que vemos, e o desgosto dos povos.

Nocturno decorre em cenários que parecem saídos da ficção: entre o western, o mundo pós-apocalíptico, um filme de guerra, de terror, e até se encontram alguns toques de realismo mágico. E, nestas paisagens fantásticas, destaca-se o trabalho da direcção de fotografia - especialmente à noite - que cria planos verdadeiramente inesquecíveis.


Há, contudo, uma desconexão entre os vários momentos do filme de Rosi. Sente-se falta de um fio condutor, que o unifique enquanto obra una, não deixando, apesar disso, de ser uma intensa experiência visual e emocional sobre as marcas da guerra - muitas delas que apenas se vêem nos rostos desencantados das crianças.

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