terça-feira, 16 de novembro de 2021

Crítica: The Card Counter: O Jogador (2021)

*8.5/10*


Protagonistas misteriosos, assombrados por traumas bem guardados, são os eleitos de Paul SchraderThe Card Counter: O Jogador esconde um passado tortuoso por detrás de uma mão cheia de trunfos. 

"Tell só quer jogar às cartas. A sua existência espartana no trilho dos casinos termina quando é abordado por Cirk, um jovem vulnerável e furioso que procura ajuda para levar a cabo o seu plano de vingança contra um coronel. Tell vê uma hipótese de redenção. Ganha o apoio da misteriosa financiadora de jogos de azar La Linda, e leva Cirk de casino em casino até que o improvável trio coloca a sua mira na World Series of Poker. Mas manter Cirk no caminho certo prova-se impossível e Tell é arrastado de volta para a escuridão do seu passado."


O jogo é uma fuga para o protagonista - está longe de ser um vício. Depois de cumprir pena na prisão, o ex-soldado Tell dedica-se a jogar nos casinos das cidades por onde passa, dorme no quarto de motel mais impessoal possível, não pretende ganhar raízes ou criar laços, mas nem tudo pode estar sempre sobre o seu controlo. Há um passado que quer apagar da memória, mas este teima em não o deixar de atormentar. Eis a misteriosa "personagem-tipo" de Paul Schrader interpretada com a sobriedade exigida por Oscar Isaac, cada vez mais maduro.

Ao conhecer Cirk, um jovem marcado por um pai cujo passado se cruza, mesmo que indirectamente, com o de Tell (bem como a partilha de um inimigo comum), o jogador baixa a guarda e deixa o jovem aproximar-se da sua rotina disciplinada. E se Cirk, dominado por desejos de vingança, desperta sentimentos de compaixão no protagonista, ao mesmo tempo, surge uma mulher na sua vida: La Linda e as suas propostas de negócio não o deixam indiferente. 


Os dois fazem o protagonista desviar-se do seu caminho predefinido e arriscar mais do que se costuma permitir. E é na incerteza do risco que The Card Counter se constrói, com a mestria de Schrader, aliada à fabulosa direcção de fotografia de Alexander Dynan, onde luzes e espelhos (dos casinos) e as sombras do passado que regressa conquistam espaço, tal qual as personagens e suas singularidades.

Tell não se comanda pela sorte ao jogo. Para ele, à mesa do casino, contam-se as cartas e joga-se com o bluff, sabendo sair no momento certo. Já na vida real, nem sempre é possível. Em The Card Counter: O Jogador não há santos, mas existe um muito forte desejo de redenção.

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