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quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Crítica: Mães Paralelas / Madres paralelas (2021)

*8.5/10*

Pedro Almodóvar regressa às mulheres do seu Cinema, enquanto também recupera a memória do povo espanhol, que muitos querem que o tempo apague. Em Mães Paralelas, os laços de sangue e a herança histórica andam de mãos dadas.

Eis "a história de duas mulheres, Janis e Ana, que coincidem num quarto de hospital onde vão dar à luz. Ambas são solteiras e engravidaram por acidente. Janis, de meia-idade, não se arrepende e está exultante. Ana, uma adolescente, está assustada, arrependida e traumatizada. Janis tenta encorajá-la enquanto se movem como sonâmbulas ao longo dos corredores do hospital. As poucas palavras que trocam nestas horas vão criar uma ligação estreita entre as duas que o acaso se encarregará de desenvolver e complicar de uma forma tão decisiva que mudará a vida de ambas."

Mais uma homenagem de Almodóvar às mulheres mas igualmente às raízes que criamos com a nossa mãe, a nossa filha, os nossos antepassados, a nossa História; e sobre todas as implicações que esse legado constitui na construção da nossa personalidade, sonhos e ambições.

Mães Paralelas destaca a importância da salvaguarda da memória histórica para a criação de uma consciência colectiva, e não se abstém de algumas farpas políticas. É preciso honrar a memória e o sacrifício dos antepassados na luta pela liberdade e democracia. É fundamental não deixar apagar a História, por mais terrível que seja, para que não se cometam os mesmos erros.

E, desta vez, o realizador regressa ao papel das mulheres e mães destacando aquelas que não nasceram para o ser, as que o desejam imensamente, as que foram descobrindo o instinto maternal e as que se desdobraram enquanto mães e pais. Todas mães solteiras, todas simbolizando a realização enquanto mulheres independentes. Por mais provações que sofram, as personagens seguem em frente. Não desistem.

Sempre fiel ao melodrama, que nos encanta e comove, Mães Paralelas surge menos colorido que o habitual, todavia, o visual dos filmes de Pedro Almodóvar é sempre identificável, onde os padrões exuberantes - mesmo que mais discretos - vão espreitando em cada cena. A banda sonora de Alberto Iglesias, intensa e melancólica, está, como sempre, numa fusão perfeita com enredo e emoções.

Penélope Cruz, sempre arrebatadora e inteira, na pele da protagonista, interpreta uma mulher de sucesso, independente, cujo sonho de ser mãe se realiza por volta dos 40 anos, de forma quase inesperada, e que abraça só para si sem hesitar. Perante a herança trágica da sua povoação natal e a vontade de lutar pela preservação dos seus antepassados, vê-se ainda a braços com a maternidade, e com um dilema que a deixa de destroçada. 

E de um encontro quase predestinado, que une duas mães para sempre, Mães Paralelas desenvolve-se partilhando os mais diversos temas pelos quais Almodóvar se interessa, aos mesmo tempo que o realizador constrói (e desconstrói) as mulheres da sua vida através de um Passado que as define no Presente dos seus filmes. 

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